PF desmonta esquema que movimentou R$ 1 bilhão em produção e venda de cocaína
Quinze pessoas foram presas nesta terça-feira (30) em uma operação da PF (Polícia Federal) para desmontar um esquema de desvio de produtos químicos controlados para produção de drogas. Após um ano de investigações, foi detectada a movimentação irregular de 64 toneladas de materiais que serviram à produção aproximada de cem toneladas de cocaína. A ação durou três anos, e a droga vendida movimentou cerca de R$ 1 bilhão, segundo a PF.
O chefe do Núcleo da Polícia Marítima da PF em Santos (72 km de São Paulo), delegado Ciro Tadeu Moraes, afirmou, em entrevista coletiva na sede da corporação na cidade, que o comércio dessa droga tem vínculos com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Os mercados consumidores principais eram a Baixada Santista (litoral paulista) e São Paulo.
Na operação, denominada "Opus Magna", também se descobriram dois laboratórios de refino – um em Diadema, na Grande São Paulo, onde se encontraram 100 quilos de cafeína e onde um homem foi preso; e outro em Pouso Alegre (MG). Entre os detidos está uma farmacêutica proprietária de duas farmácias em São Vicente (65 km de São Paulo).
Nessa cidade, policiais detiveram o líder da quadrilha, "em agosto ou setembro do ano passado", de acordo com Moraes. Nomes de pessoas e empresas não foram divulgados "para não prejudicar as investigações" – a partir da operação, a PF tentará descobrir quais foram os traficantes que compraram a droga.
Dos 16 mandados de prisão que seriam cumpridos nesta terça-feira, oito ocorreram na Baixada Santista e sete na Grande São Paulo. Um suspeito não foi encontrado. Também se cumpriram 23 mandados de busca e apreensão: 11 na região de Santos, dez na de São Paulo, um na região de Campinas (SP) e um em Pouso Alegre. Todos foram indiciados por tráfico de drogas. Nenhum tinha antecedentes criminais. Outras 11 pessoas foram intimadas a prestar esclarecimentos à PF.
O esquema
O delegado declarou que os detidos abriram "quatro ou cinco" empresas em nome de "laranjas". O registro é fornecido pela PF. Por aproximadamente dois anos, elas compraram de empresas legalmente estabelecidas itens como cafeína, acetona, éter, ácido clorídrico, ácido bórico, benzocaína e manitol. A droga "batizada" continha 60% de mistura química e 40% de cocaína.
Os produtos químicos eram adquiridos, sob licença, de quatro ou cinco empresas nacionais, mas não foram declarados à Polícia Federal. O chefe da PF em Santos, delegado Reinaldo Campos Sperandio, informou que a movimentação irregular foi detectada pela corporação em Brasília, onde há um núcleo que acompanha o comércio de produtos químicos controlados.
Durante as apurações, licenças de empresas que se utilizavam de "laranjas" foram canceladas. Porém, parte das compras foi feita com base em autorizações falsificadas, disse o delegado Ciro Moraes. A PF está fiscalizando as empresas que venderam os produtos. As pessoas que emprestaram seus nomes para o fornecimento das licenças não foram indiciadas, apesar de que "alguns recebiam remuneração por isso e tinham ciência [da finalidade da cessão de seus nomes]".
Opus Magna
A Polícia Federal em Santos informou que a operação foi denominada "Opus Magna" em uma comparação do refino de drogas com a "busca da pedra filosofal [que] sempre foi o maior objetivo dos alquimistas. Com este objeto, o alquimista poderia, teoricamente, transmutar qualquer metal inferior em ouro".
"Estes cientistas empíricos", informa a PF, "tentavam produzir a pedra filosofal em seus laboratórios utilizando diversas substâncias e compostos. Esta arte era chamada de alquimia. O trabalho relacionado com a busca pela pedra filosofal foi chamado pelos alquimistas de 'opus magna' [a obra maior]".
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