terça-feira, 26 de março de 2013


Uma polícia para ricos e outra para pobres em Belo Horizonte


Alessandra Mendes - Do Hoje em Dia



Policiais com submetralhadoras no Aglomerado da Serra: arma em punho só na favela, dizem moradores
Emmanuel Pinheiro/22-02-2011
Policiais com submetralhadoras no Aglomerado da Serra: arma em punho só na favela, dizem moradores


A classe social determina o tipo de atendimento que a pessoa vai receber da polícia. A afirmação parte de especialistas em segurança pública e da população, que percebe a diferença na abordagem nos aglomerados e em regiões nobres da capital.

É também uma das conclusões de uma tese de doutorado feita por um professor que acompanhou, dentro e fora das viaturas, o trabalho da polícia por mais de um ano. “Os policiais veem isso de forma natural”, afirma Lúcio Alves de Barros, doutor em ciências humanas pela UFMG. Para ele, os “homens da lei” refletem um comportamento da sociedade. “A diferença é que a polícia tem poder e chega a bater e a matar”.

Estereótipo


Durante o trabalho de campo, Barros presenciou e até reproduziu essa diferenciação. “Depois de algum tempo acompanhando os policiais, passei a olhar as pessoas da mesma forma que eles, pensando em quais seriam abordadas ou não de acordo com o estereótipo do criminoso: negro, pobre e jovem”. A discriminação também existe na forma de tratar os envolvidos e na dedicação do policial para resolver o problema.

“Os moradores de aglomerados estão acostumados com policiais portando armas pesadas, fazendo abordagens constantes e levantando suspeitas infundadas. Isso não ocorre na zona sul, onde as pessoas com certeza vão reclamar e denunciar o excesso”, diz o professor.

Na pele

O vendedor Wanderson Calixto dos Santos, de 34 anos, morador da região de Venda Nova, sentiu na pele a diferença. “Apanhei durante uma abordagem policial, sem motivo. Não fazem isso com rico. Com pobre, o tratamento é outro. E pagamos os mesmos impostos”.

Em defesa do interesse e do patrimônio das elites

Nos bairros nobres, os moradores não reclamam da abordagem policial porque, ali, isso não é uma realidade. “Ninguém é parado na rua e nunca vi policiais portando armas ostensivamente”, diz a médica Elizabete Godinho. Ela vive no Belvedere, na zona Sul de BH. A disparidade nas abordagens é percebida, porém, em ocorrências diárias.

Juiz

No mês passado, dezenas de viaturas foram à casa de um juiz após o imóvel ser arrombado. O caso do comerciante do Belvedere baleado durante um assalto está sob os cuidados do Departamento de Operações Especiais (Deoesp) da Polícia Civil. “A justificativa para isso é, claramente, interesses políticos e econômicos. A polícia deveria manter a segurança de toda a população, mas prioriza ações para defender a elite”, afirma Robson Sávio, professor da PUC Minas e especialista em segurança pública.

Delegados do Deoesp informaram investigar o caso no Belvedere “por determinação da chefia”. Normalmente, um episódio assim iria para a delegacia da região onde aconteceu.

A Secretaria de Estado de Defesa Social informou que a orientação aos policiais é dar “atendimento igualitário a todos os cidadãos”
 
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