Detento narrou cotidiano na pior cadeia do País, segundo a CPI do Sistema Carcerário, através do Facebook
Foto: Nabor Goulart/Freelancer/Especial para Terra
Direto de Porto Alegre
Os 498 contatos cadastrados por um preso em sua página no Facebook puderam acompanhar, durante um bom tempo, o cotidiano na penitenciária considerada a pior do País pela CPI do Sistema Carcerário, o Presídio Central de Porto Alegre (RS), que abriga 4,8 mil homens. De dentro da cela, ele atualizava o seu perfil e postava a rotina na cadeia através de um telefone celular. A Justiça só descobriu o crime após uma denúncia. "Isso aqui é o inferno", narrou o apenado sobre o clima dentro das galerias.
Condenado por tráfico de drogas, ele comentou a sua sentença e disse que "a cada nascer do sol, é um novo passo para a liberdade". O juiz da Vara de Execuções Criminais (VEC) de Porto Alegre, Alexandre Pacheco, afirmou que acompanhou o perfil do preso no Facebook e obteve a sua ficha criminal, chegando à conclusão de que não se trata de uma brincadeira. "Ele reclamou da falta de luz no presídio, fato que realmente aconteceu, e também contou sobre a tensão após uma queima de colchões. O perfil era verdadeiro", disse Pacheco.
Conforme o juiz, em 2010 foram apreendidos mais de 2 mil telefones celulares em presídios da região metropolitana de Porto Alegre. Para ele, o grande número de visitantes mensais, cerca de 20 mil, e a estrutura defasada das penitenciárias favorecem os criminosos. "Isso demonstra o total descontrole do Estado que ocorre lá dentro. Temos que investir em tecnlogia, detectores de metais e outros aparatos eletrônicos", defende o magistrado.
Festas e conta de celular estourada
Sem se preocupar com a repercussão de suas postagens, o preso comemorou a entrada de drogas na cadeia e reclamou das operadoras de celular: "Estou bêbado de coca. (...) Fim de mês. Limite de ligação estourado. (Operadora) roubando 'afu', fazer o quê?". Em outro recado, ele pergunta: "está muito escancarado o meu Facebook?" Desdenhando da fiscalização policial, o preso disse ainda, se referindo aos entorpecentes: "até parece uma rave isso aqui. Só faltou as gatas".
Conforme a Justiça, que encaminhou uma denúncia à direção do Presídio Central, ele já tirou a página do ar, mas o histórico foi armazenado pela VEC. O juiz Alexandre Pacheco afirmou que a situação é corriqueira e salientou que o máximo que pode acontecer ao apenado é um procedimento administrativo disciplinar, o isolamento durante 30 dias e um processo por crime de posse de celular dentro de presídio. O Terra fez contato com a administração do presídio, que não deu retorno.