Agentes que estavam em paiol assaltado têm medo de morrer
Frederico Haikal/Hoje em Dia
DOPADOS – Nove agentes adormeceram depois de fazerem as refeições na noite de domingo
Os agentes penitenciários encontrados dopados na Central Integrada de Escoltas de Ribeirão das Neves, na Grande BH, estão com medo de ser vítimas de queima de arquivo. Afastados das funções por 30 dias, os servidores denunciam que não estão sendo amparados pelo Estado e temem até ficar em casa.
Em entrevista ao Hoje em Dia, um dos agentes penitenciários de plantão no paiol no dia do furto, que pediu para não ser identificado, afirmou que todo o episódio é “nebuloso”. Ele lembrou que no domingo a equipe de nove pessoas entrou de serviço às 7h e cumpriria uma jornada de 24 horas.
Quatro deles almoçaram a comida que levaram de casa. Os outros pediram marmitex e um refrigerante de um restaurante localizado perto do Presídio Antônio Dutra Ladeira. As refeições foram entregues por um motoboy.
Após o almoço, o grupo, que trabalha junto há cerca de dois meses, comeu a salada de frutas preparada por um dos colegas. A sobremesa continha banana, laranja, morango, manga, leite condensado, creme de leite e leite em pó. Que salada é essa , doce dimais “Não tínhamos combinado nada. Ele levou os ingredientes de casa e disse que faria para todo mundo. Foi a primeira vez que isso aconteceu em todo o tempo em que a equipe está junta”, afirma.
Os agentes afirmam não terem sentido sabor estranho no alimento. “Estava muito doce, mas nada de anormal. Por estar muito gostosa, todos comeram muita salada de frutas”, conta.
Por volta das 19h, dois agentes saíram para buscar sete marmitas no presídio. Outros dois não quiseram, pois jantaram a “quentinha” que levaram de casa. Na unidade prisional, a comida é servida pelos próprios funcionários, que também lacram a embalagem. Novamente, a salada de frutas foi feita e servida a todos os companheiros. “Esse foi o único alimento que todos comeram em comum”, disse a fonte.
Cerca de uma hora depois, dois dos plantonistas começaram a andar cambaleando e falavam que pareciam estar bêbados. “De repente, caíram na cama e apagaram, como em cena de filme”, relata. Outros dois caíram no banheiro, foram socorridos e colocados na cama. Até aí, os colegas não desconfiaram que algo estivesse errado. Outros diziam estar cansados e deitaram no sofá e em um colchão. As horas seguintes são uma incógnita para eles, que foram encontrados pelo coordenador da equipe do dia, por volta das 7h de segunda-feira, alguns dormindo e outros passando mal.
Reivindicações
O plantão era formado por oito agentes de escolta e um coordenador. Segundo o informante, desde que a unidade foi inaugurada, no ano passado, estava sendo pedido o reforço na segurança do imóvel, como a construção de muralhas e guaritas na parte detrás.
“Não acredito que tenham usado veículo para carregar as armas. A câmera na entrada da base transmite imagens em tempo real para o presídio, e o carro teria sido visto. Quem fez isso deve ter entrado por trás, pelo matagal, onde a imagem da câmera tem um ponto cego”, diz.
A Central de Escoltas guardava pistolas e submetralhadoras .40, além de fuzis 556 e espingardas calibre 12. O agente, porém, não soube informar a quantidade de armas no local. Ele especula que não chega a cem.
Na tarde da última quarta-feira (26), as equipes da Central Integrada se reuniram com o coordenador-geral da escolta. O roubo não foi discutido. Os funcionários apenas foram informados de que o palco do furto foi fechado e a unidade transferida para uma penitenciária, também em Ribeirão das Neves.
Após roubo, governo reforça a segurança nas centrais de escolta
O roubo de 45 armas da Central de Escoltas, em Ribeirão das Neves, na Grande BH, na madrugada de segunda-feira, obrigou o Estado a reforçar a segurança em todas as suas unidades prisionais. Ontem, o secretário de Estado de Defesa Social, Rômulo Ferraz, determinou a instalação de câmeras de monitoramento nas duas Centrais de Escolta – em Ribeirão das Neves e Juiz de Fora –, além de todas as 144 unidades prisionais com guarda de armas. Os pontos receberão outros equipamentos de proteção, que não foram divulgados, por motivo de segurança.
Após o roubo, os procedimentos de segurança estão sendo revistos e os 15 novos presídios e penitenciárias em fase de licitação contarão com novas regras. A previsão é a de que a instalação das primeiras câmeras, sob responsabilidade da Subsecretaria de Administração Prisional, ocorra em até três meses, inicialmente nas unidades de maior porte.
Segundo o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários de MG, Adeílton Rocha, devido à falta das armas, foi necessário realocar o armamento disponível de outras unidades prisionais. Além disso, o Comando de Operações Especiais da PM, que participava apenas de algumas escoltas, agora passa a ser mais utilizado.
A reposição do arsenal roubado ocorrerá só em 30 dias, conforme a Secretaria de Defesa Social. Parte das 1.774 armas adquiridas no fim de 2013 será encaminhada às centrais de escoltas de Neves e Juiz de Fora. As duas últimas compras de armamento, em agosto e dezembro de 2013, custaram R$ 2,6 milhões. Não foi informada a quantidade de armas disponíveis para uso pelo Estado.
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