segunda-feira, 11 de abril de 2011

Fragilidade na segurança põe lotéricas na mira dos ladrões

Fragilidade na segurança põe lotéricas na mira dos ladrões O número de assaltos às lotecas em Minas cresceu 67,2% em 12 meses, passando de 113, em 2009, para 189, em 2010 Renato Fonseca - Repórter - 11/04/2011 - 03:49 EMMANUEL PINHEIRO Loteca Zebra de Ouro, no Gutierrez, já foi assaltada três vezes em um ano EMMANUEL PINHEIRO Presidente do Sindicato dos Lotéricos reclama da falta de policiamento Pequenas, sempre cheias de clientes e com grande circulação de dinheiro, casas lotéricas são alvos cada vez mais frequentes de bandidos. Prestando serviços bancários, mas sem o aparato de segurança de uma agência, facilitam a ação dos criminosos, deixando amedrontados donos e funcionários. O número de assaltos nas lotecas aumentou 67,2% em Minas Gerais em 12 meses. No ano passado, 189 foram roubadas, contra 113 em 2009. Em Belo Horizonte, o salto foi de 78,5%. Foram 25 assaltos a lotéricas em 2010 e 14 no ano anterior. Já nas outra cidades da Grande BH, apesar do número absoluto ser menor, as ocorrências dobraram, passando de 9 para 18. Em contrapartida, no Estado, esses crimes diminuíram 26,6% nos estabelecimentos bancários. O levantamento foi fornecido pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds). Especialistas em segurança pública são unânimes em apontar a fragilidade na segurança das loterias como a principal causa dos assaltos. Minas Gerais tem 1.382 lotecas, 216 delas na capital. Ao lado dos tradicionais jogos e apostas, serviços antes oferecidos somente pelos bancos estão cada vez mais presentes. No local, o cliente pode abrir uma conta, conseguir um empréstimo consignado e até crédito imobiliário. Isso sem falar nos saques de benefícios e de poupança, além de depósitos e pagamentos. De acordo com o presidente do Sindicato dos Lotéricos de Minas Gerais (Sincoemg), Marcelo de Araújo, o atendimento a estas prestações de serviço correspondem a 70% da atual demanda das lotecas do Estado. Preocupado com a violência, o empresário conta que sua casa de apostas, a Zebra de Ouro, no Bairro Gutierrez, Região Oeste da capital, já foi assaltada três vezes em menos de um ano. Somados, os prejuízos nos três roubos chegam a R$ 40 mil. "Precisamos de mais policiamento em todas as unidades lotéricas do Estado", aponta Marcelo de Araújo. Segundo ele, os proprietários das lojas precisam investir pesado para tentar inibir a ação dos bandidos. Somente para o cofre boca de lobo, alarme e circuito fechado de TV, são necessários entre R$ 5 mil e R$ 7 mil. Já o comerciante que optar pela blindagem dos guichês pode gastar até R$ 40 mil. Para o sociólogo da Fundação João Pinheiro (FJP), Eduardo Cerqueira Batitucci, é impossível que a Polícia Militar esteja presente em todas as lotéricas da cidade. Segundo ele, casas de apostas assumiram a mesma importância dos bancos, mas sem levar em conta o ônus desta responsabilidade. "Não podemos generalizar, mas é evidente que as medidas de segurança das lotecas e dos bancos são muito diferentes. Ainda existem muitas falhas", afirma Batitucci, que coordena o Núcleo de Estudos em Segurança Pública (Nesp) da FJP. A Polícia Militar reconhece a fragilidade das casas lotéricas, mas promete intensificar as ações preventivas com patrulhamento nos pontos mais críticos da cidade. De acordo com o tenente-coronel Alberto Luiz, chefe de Comunicação da PM, a corporação vai estabelecer um diálogo direto com a categoria e reforçar a importância de se implantar medidas de segurança. O assaltante de uma lotérica, na maioria das vezes, é homem, com idade entre 17 e 25 anos e de baixa renda. Mais de 60% dos criminosos são os mesmos que praticam a saidinha de banco e 90% deles têm passagens pela polícia. Além disso, o bandido age, sempre, na companhia de dois ou três comparsas. A análise é do delegado responsável pelo Departamento de Crimes contra o Patrimônio, Islande Batista. Apesar de não ter números de prisões efetuadas, Batista alega que as investigações têm sido feitas pelas delegacias regionais da cidade e os culpados detidos. Roubos crescem 13% no comércio Além da fragilidade em casas lotéricas, o levantamento fornecido pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) mostra que as ocorrências de roubo em estabelecimentos comerciais aumentaram 13,7% em Belo Horizonte. No ano passado, foram registrados pela Polícia Militar 2.056 boletins referentes a assaltos no comércio da capital, contra 1.807 em 2009. A padaria Morigerati, na Rua do Cardoso, Bairro Santa Efigênia, Região Leste da capital, já foi assaltada 11 vezes. O estabelecimento fica a exatos seis quarteirões do 1° Batalhão da Polícia Militar (Praça Floriano Peixoto). "Os bandidos chegam, nos abordam e não podemos fazer nada. Somos reféns da violência", diz a proprietária Telma Olimpia de Oliveira Vieira, 49 anos. A ação dos bandidos obrigou a empresária a mudar o horário de funcionamento da padaria. O local abria as portas até as 21 horas. Agora, fecha, sempre, às 19h30 e não funciona aos domingos. "O que mais me revolta são as nossas leis, pois não podemos fazer nada. Se reagimos, além de arriscarmos nossas vidas, deixamos de ser vítimas e passamos a ser réus", critica. O presidente do Sindicato dos Empregados do Comércio de Belo Horizonte e Região Metropolitana, José Alves Paixão, aponta que a violência tem migrado do Hipercentro para os bairros. "A instalação do 'Olho Vivo' e a presença mais efetiva da PM têm inibido a ação dos bandidos na Região Central. Porém, nos bairros a onda de assaltos tem sido constante". O tenente-coronel Alberto Luiz não confirma a migração da violência para os bairros. Ele reforça que, assim como no caso das casas lotéricas, o patrulhamento nas ruas da cidade também será intensificado. Apesar do aumento de ocorrências nos estabelecimentos comerciais, o número de assaltos cometidos contra os moradores de Belo Horizonte diminuiu na mesma proporção. Foram 23.293 em 2009 e 20.224 ano passado - queda de 13,1%.

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