sexta-feira, 23 de setembro de 2011


Traficantes expulsam famílias de agente penitenciário assassinado no Eustáquio

Todos os parentes que moravam próximo a Gilmar Santos tiveram qude deixar casas para não morrer



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Foto: Sandro Lima

A viúva Cícera de Araújo pediu ontem escolta policial para retirar pertences de casa
Flávia Amaral
Repórter
Eles não esperaram nem um dia após o enterro do agente penitenciário Gilmar dos Santos para expulsar toda a família da vítima do Conjunto Santa Maria, no Eustáquio Gomes. “Assim que cheguei do sepultamento do meu marido recebi um recado de que os traficantes iam entrar na casa e matar todos que estivessem dentro dela. Só deu tempo de pegar os documentos e correr”, lembrou Cícera de Araújo Gomes, viúva de Gilmar, executado com vários tiros à porta de casa, há três dias.
Ontem, Cícera foi até a Intendência Penitenciária solicitar escolta policial para que, em segurança, possa retirar de dentro da própria casa todos os seus pertences, incluindo dois veículos dos quais o esposo era proprietário. Desde as ameaças de morte na noite da última segunda-feira ela e outras quatro famílias – todos parentes – deixaram suas casas, no conjunto, com medo de serem executadas. “Nunca pensei que isso pudesse acontecer com a gente. Nunca fizemos nada de mal a ninguém e tivemos que sair fugidos do nosso lar”, disse emocionada.
No momento em que Cícera e o filho Airton Felipe, 20, souberam do plano de chacina havia na casa três crianças e oito adultos. Dois parentes chegaram a perceber uma movimentação estranha no entorno da casa. Segundo ela, desde então, mesmo longe do local, não consegue dormir ou comer.
Na Intendência, Cícera foi recebida no setor de Recursos Humanos e conseguiu a escolta policial para a mudança. Na sala de espera estava o rapaz que conseguiu evitar a tragédia, avisando à família sobre o plano. Ele pediu para não ser identificado porque também corre risco de morrer, já que os traficantes sabem que o aviso partiu dele. “Não conseguiria viver sabendo que poderia ter evitado a morte de tanta gente, principalmente das crianças que estavam lá”, afirmou.
Uma fonte que também pediu para não ser identificada deu detalhes de como agiram e quem são os quatro bandidos que teriam executado o agente Gilmar dos Santos. Dênis, Gustavo, Léo e Cona teriam sido os executores e ‘Rato’ teria sido a pessoa que “voltou ao local do crime para ver se ele (Gilmar) estava morto mesmo”.
Pelas informações repassadas à reportagem, o grupo domina o tráfico na região e estaria incomodado com a presença ‘de um cara da polícia’ no Conjunto Santa Maria.
Gilmar dos Santos havia mudado para o conjunto com a família há três meses e lá montou um depósito para venda de material de construção. “Eles não querem ninguém lá. Eles é que mandam e pronto”, revelou.
Psicopatas
Ainda de acordo com a testemunha, no dia do assassinato de Gilmar, Dênis, Gustavo, Léo e Cona foram vistos por todos da rua vestindo casacos. “Ainda era tarde e estava muito quente, aquelas roupas chamaram a atenção, mas ninguém teve coragem de dizer nada. Todo mundo tem medo e com razão. Eles são psicopatas e matam por um Big Big [chiclete]”, contou.
Um dos suspeitos, depois de ter matado Gilmar, teria voltado ao local com outra roupa. “Ele chegou dizendo: é festa! pá, pá, pá. Isso imitando o barulho dos tiros e foi embora”, relata a testemunha.
Se faltam coletes à prova de bala para policiais em Alagoas, o mesmo não se pode dizer com relação a muitos traficantes em ação no Estado. É o que assegura um morador do conjunto Santa Maria sobre os bandidos que ele conhece. “Quem mora num lugar como esse conjunto sabe de tudo, tudinho. Eles fazem questão de mostrar que estão prontos pra tudo. Até para atirar no papa”.
Ainda segundo o morador, alguns deles já foram vistos em plena luz do dia ‘limpando’ seus coletes. Para ele, é uma forma de intimidar a população que já vive amedrontada. “Uma covardia, mas é assim que funciona. Eles desafiam a Segurança Pública o tempo todo e afrontam as pessoas de bem que restam por lá. A gente que não tem dinheiro tem que morrer lá mesmo”, lamentou.
Sindapen
O presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários, Jarbas Souza, responsabiliza a baixa remuneração pela morte da maioria dos servidores da área de segurança. “Como é que alguém trabalha no sistema prisional, lidando diariamente com bandidos e ao fim do dia volta para a sua casa, onde eles são seus vizinhos?”, questionou.
Gilmar dos Santos tinha 50 anos e foi morto a tiros na porta de casa quando consertava seu carro, no último domingo, em plena tarde. Ele deixou quatro filhos, o mais novo com apenas três anos de idade.

 fonte    http://tribunahoje.com/noticia/5828/policia/2011/09/21/traficantes-expulsam-familias-de-agente-penitenciario-assassinado-no-eustaquio.html

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