segunda-feira, 5 de agosto de 2013

05/08/2013 - 03h15

Penitenciárias paulistas têm até 'celular do James Bond'

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AFONSO BENITES
DE SÃO PAULO
JOSMAR JOZINO
DO "AGORA"
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Tablets, relógios celulares, videogames, aparelhos de DVD e smartphones de última geração com poderosas câmeras, TV acoplada, acesso a internet e Bluetooth. Nada disso estava em uma loja de produtos eletrônicos.
Esses equipamentos foram encontrados nos últimos cinco anos em penitenciárias paulistas sob o poder de presos ou abandonadas nos pátios de banho de sol.
O relógio celular, por exemplo, que teve três exemplares apreendidos no ano passado no Centro de Detenção Provisória Belém, na zona leste da capital, é tão moderno e discreto que no comércio os vendedores o chamam de "celular do James Bond".
Na internet, um modelo como esse custa cerca de R$ 1.500, tem tela com 1,18 cm de espessura, reconhecimento de voz e armazena arquivos de áudio em MP3.
Nos presídios, o preço dos telefones obedece a lei da oferta e da procura, portanto, é bem mais caro que na rua. Um celular que custa pouco mais de R$ 300 no comércio legal, na penitenciária pode valer até R$ 4.000.
Conforme agentes penitenciários e ex-detentos, muitas vezes esse aparelho é dividido entre dois ou três presos. Um fala de manhã, outro, à tarde e o terceiro, à noite.
Na maioria das apreensões, segundo agentes, o detento que diz ser o dono do celular está mentindo. "São pessoas que têm dívidas com o crime organizado que pagam 'assumindo' esse boletim de ocorrência", disse um agente.
Uma apreensão que chamou a atenção dos agentes acabou com o que foi batizado de playground dos presos no CDP Belém. Em uma das celas, havia um videogame, um DVD e 31 celulares.
Editoria de Arte/Folhapress
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CRESCIMENTO
Analisando os dados de apreensões de celulares desde 2008, constata-se que tem crescido a quantidade de aparelhos que entram nos estabelecimentos prisionais.
Em 2008, foram 10.446 aparelhos apreendidos, média diária de 28. No ano passado, foram 13.248, média de 36 -um crescimento de quase 27%.
Na opinião do sociólogo José dos Reis Santos Filho, coordenador do Núcleo de Estudos sobre Situações de Violência e Políticas Alternativas da Unesp, a circulação de celulares não diminui porque há uma rede com elos que é difícil de ser quebrada.
"São agentes penitenciários, advogados, familiares e até policiais que entram com o telefone ou ajudam alguém a entrar. É um comércio que interessa aos presos e não tem o efetivo combate."
Para ele, esse comércio aumentou após os ataques da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) em 2006.
É por meio do celular que muitos dos presos mantêm o controle do tráfico de drogas do lado de fora das prisões.
No mês passado, o Ministério Público revelou que de dentro da penitenciária 2 de Presidente Venceslau, o preso Wanderson Paula Lima, o Andinho, comandava a venda de drogas em Campinas.
Sexta-feira, uma ação da polícia prendeu 28 suspeitos que recebiam ordens por telefone de um preso conhecido por "Zona Sul". Ele está no mesmo presídio de Andinho.
Para a coordenadora da comissão de política criminal e penitenciária da OAB de São Paulo, Adriana Martorelli, a superlotação é um dos motivos."Hoje o sistema penitenciário não tem controle. Tem muito mais preso do que seria possível gerenciar."
Em todo o Estado de São Paulo, há quase dois presos por vaga. Conforme dados do Departamento Penitenciário Nacional, são 195.965 detentos em 102.312 vagas.

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