segunda-feira, 18 de março de 2013

Presas aprendem ofício e vão da cadeia para a construção



Dos 2.500 detentos já qualificados, 70% tiveram acesso a vagas no mercado
Publicado no Jornal OTEMPO em 18/03/2013
Avalie esta notícia » 
2
4
6
8
ANA PAULA PEDROSA
Queila Ariadne
  • Notícia
  • Comentários(1)
  • Compartilhe
  • Mais notícias
A
A
FOTO: DENILTON DIAS
Esperança. "Meu pai era pedreiro. Eu não gostava de construção, mas, hoje, me imagino construindo uma casa", diz Girlaine Rodrigues
Galeria de fotos
As mãos que muitas vezes seguraram armas agora empunham pás, empurram carrinhos de areia, erguem paredes e constroem sonhos de um futuro melhor. "Lá fora, eu cometia assaltos. Agora, minhas armas serão essas, que eu vou usar para gerar renda e trazer um bom futuro para os meus filhos", conta Girlaine Rodrigues da Silva, 30, presa há dois anos e dez meses, enquanto mostra ferramentas de construção.

Ela e outras 35 detentas do Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto (Piep), em Belo Horizonte, fazem parte da primeira turma de pedreiras (iniciação profissional de alvenaria) que o projeto Escola Móvel do Sesi/Senai desenvolveu para mulheres presas. Elas concluíram o curso, e a formatura está prevista para o mês que vem. Entre prática e teoria, foram quatro horas diárias durante 20 dias úteis.

A chance de contratação por construtoras é grande. "Hoje, 60% das empresas que contratam egressos do sistema prisional são da construção civil", afirma o cientista social do instituto Minas pela Paz, Ronalte Vicente da Silva.

Esse instituto, uma organização da sociedade civil de interesse público (Oscip), encaminha egressos do sistema prisional para o mercado de trabalho. "Fazemos a articulação entre o governo do Estado e a iniciativa privada. Desde 2009, cerca de 2.500 detentos em Minas Gerais foram qualificados em parceria com a indústria, e 70% conseguiram acessar o mercado de trabalho", afirma o cientista social do instituto.

Demanda.A construtora Atrium tem hoje quatro ex-presidiários em sua equipe. "Se o candidato vem encaminhado pelo instituto Minas pela Paz, já sabemos que existe uma estrutura por trás e nos sentimos respaldados. Está muito difícil contratar e é importante eles chegarem qualificados", afirma a gerente de recursos humanos, Brenda de Souza.

Na construtora Masb, são 72 egressos. "É superinteressante contar com esse público. Eles são, no geral, dedicados, e a vontade de recomeçar faz a diferença. Como a dificuldade de mão de obra está em todo o mercado, é bom contar com pessoas comprometidas", diz a gerente de desenvolvimento humano Milecia de Oliveira.
EGRESSOS
`Cada oportunidade é uma arma a menos´
"Cada oportunidade de emprego para um egresso é uma arma a menos na rua", afirma o cientista social do Instituto Minas pela Paz, Ronalte Vicente da Silva. Segundo ele, o aquecimento do mercado tem ajudado na reinserção profissional de ex-detentos.

Para a pedagoga do projeto Escola Móvel, Larissa de Oliveira, a contribuição de um curso vai além da recolocação profissional. "Quando a pessoa sai da prisão, ela não precisa, necessariamente, ser contratada por uma empresa, mas pode usar o que aprendeu para gerar renda", diz.

A diretora de atendimento do Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, Ana Cristina Cesário, destaca a importância dos cursos. "É uma porta que se abre. É muito mais fácil a sociedade aceitar uma pessoa capacitada", afirma. (APP e QA)
FOTO: PAULA HUVEN
Trabalhando, Rogério paga a pensão dos filhos e ajuda a mãe
Autoestima maior e uma pena menor
O trabalho foi a maneira que Rogério Ferreira, 45, preso por tráfico há seis anos, encontrou para reduzir sua pena, elevar a autoestima e garantir o sustento da família. Logo que passou para o regime semiaberto, há um ano e cinco meses, ele conseguiu uma vaga na Masb. "Pedi uma oportunidade e recebi. Pretendo continuar aqui até quando eles quiserem", diz. Ele trabalha de segunda a sábado e recebe R$ 1.320 por mês. (APP e QA)

Nenhum comentário:

PCC criou células de inteligência para matar agentes penitenciários federais Flávio Costa Do UOL, em São Paulo 27/07/2017 - 04h00 Ouvir 0:00...