sexta-feira, 4 de abril de 2014

Arsenal some de presídios no Complexo de Gericinó Seap apura sumiço de 250 pistolas de agentes onde estão presos mais perigosos

Arsenal some de presídios no Complexo de Gericinó
Seap apura sumiço de 250 pistolas de agentes onde estão presos mais perigosos

ADRIANA CRUZ E JOÃO ANTONIO BARROS
Rio - Responsável por manter os presos do Rio de Janeiro atrás das grades, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) deixou escapar um nos últimos dois anos um arsenal com 250 pistolas. As armas faziam parte depósito bélico do Complexo do Gericinó — justamente onde estão os detentos classificados como mais perigosos — e eram destinadas aos agentes que atuam no esquema de segurança dos presídios.
A Seap abriu um processo administrativo disciplinar para apurar como as armas foram desviadas do Complexo de Gericinó e se há envolvimento de agentes penitenciários. O responsável pela guarda do armamento desaparecido era, até o ano passado, o coordenador de Segurança do Sistema Penitenciário, Jorge da Silva Perrote.
A descoberta do sumiço ocorreu justamente na hora da substituição do encarregado no controle das armas. Saiu Perrote e entrou Márcio Luis dos Anjos Rocha, que é o coordenador de segurança do Complexo de Gericinó. Ele fez o levantamento no arsenal e viu que não havia nenhum recibo ou registro das pistolas da Seap que, em tese, estariam em poder dos agentes — chamadas de armas acauteladas.

Processo administrativo disciplinar investiga a possibilidade de envolvimento de agentes penitenciários do Complexo de Bangu no sumiço
Foto:  Alexandre Vieira / Agência O Dia
O controle de todas as armas é uma norma estabelecida desde dezembro de 2012 pelo secretário César Rubens. Ele padronizou a distribuição e ao pegar a arma, o agente é obrigado a preencher e assinar um documento. Mas a regra não era seguida e a relação das armas sumidas do depósito de Gericinó não consta na cota de nenhum dos guardas penitenciários das unidades.
Sem saber como resolver o problema, Márcio Rocha relatou o sumiço e encaminhou aos superiores. O processo foi instauração e levado para a Comissão Permanente de Inquérito Administrativo. O responsável pela apuração é o subsecretário de Gestão Operacional Sauler Sakalem, que já ouviu os agentes encarregados pelo controle e o responsável por receber as armas da Polícia Civil.
Ao estabelecer as novas regras sobre o controle do arsenal na Seap, o próprio secretário César Rubens reconheceu, em 2012, que existiam falhas que facilitavam os extravios, roubos e furtos das armas da secretaria, que geram não só prejuízos ao estado como correm o risco de cair nas mãos de traficantes.
A reportagem do DIA encaminhou ontem à Secretaria de Administração Penitenciária um questionário com os dados do desaparecimento das armas, mas como resposta recebeu apenas que havia um processo administrativo aberto para apurar o sumiço.

Diretores de unidades prisionais foram atingidos
O desaparecimento de armas no paiol da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária atingiu diretores e subdiretores de unidades prisionais que recebiam pistolas do governo do estado. Outra reclamação dos agentes é a de que integrantes de escoltas de diretores até do complexo penitenciário de Gericinó estariam sendo obrigados a usar armamento próprio. O que criou insatisfação no grupo.
Informações sobre o desvio de armas foram encaminhadas ao Ministério Público do Estado em outubro do ano passado sob o número 2013.00630952 . O promotor da Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva do Sistema Prisional e Direitos Humanos, Leonardo Canônico, confirmou ao DIA a existência do procedimento. Mas em nota argumentou que “todavia, em razão dos temas nele investigados, o mesmo teve seu sigilo decretado já na portaria de instauração.”

Armamento só por um ano
Para garantir rigoroso controle de distribuição de armas para os agentes, a Seap estabeleceu normas específicas. O material bélico só pode ficar no prazo máximo de um ano com o servidor. Após este período, ele tem 15 dias para apresentar coletes, bastões, algemas, armamento letal ou de baixa letalidade e munições, por exemplo, à Subsecretaria-Adjunta de Unidades Prisionais.
Armas longas, como escopetas e fuzis só podem ser liberadas para alto escalão, como corregedor e presidente da Comissão Permanente de Inquéritos, coordenador de segurança, diretores e ocupantes de subsecretarias. Para liberação do armamento, o servidor tem que assinar documento chamado de cautela individual de material bélico.
No caso de armas é preciso preencher a espécie; marca; calibre; número de carregadores; munições; nome do recebedor; lotação da unidade. No documento, o responsável pelo armamento tem que indicar o endereço residencial, telefones fixo e celular, além de e-mail. Há espaço ainda para a colocação de recomendações ou proibições.
Um agente não pode passar a arma para outro sem que haja autorização do Secretário-Adjunto de Unidades Prisionais e ciência da Coordenação de Segurança. O uso de munições deve ser comunicado à chefia do servidor em 72 horas com cópia do registro de ocorrência.

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