A Scuderie Le Cocq foi criada para vingar a morte em serviço de Milton Le Cocq, famoso detetive de polícia do estado do Rio de Janeiro, (antigo Distrito Federal), e integrante da guarda pessoal de Getúlio Vargas. Ele foi morto por Manoel Moreira, conhecido como "Cara de Cavalo", marginal que atuava na Favela do Esqueleto, onde se encontra atualmente a UERJ, na década de 1960.[1]
A escuderia transformou-se em associação e chegou a reunir sete mil associados e admiradores. Seu objetivo era a repressão ao crime. O grupo era liderado pelos chamados "Doze Homens de Ouro", entre os policiais escolhidos na força de elite da polícia pelo Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Luis França, para "limpar" a cidade.
Um dos primeiros integrantes selecionados foi Guilherme Godinho Ferreira, o Sivuca, que mais tarde se elegeu deputado estadual com o bordão "bandido bom é bandido morto". Segundo o próprio Sivuca, "o grupo foi criado para dar satisfação à sociedade". Eram agentes especiais, bem treinados, corajosos e aplaudidos por terem eliminado alguns dos piores bandidos da época, a começar pelo "Cara de Cavalo", depois "Mineirinho", Lúcio Flávio e muitos bandidos famosos dos anos 50 e 60, que foram mortos em suas próprias comunidades. Zé Pretinho, por exemplo, foi assassinado na porta de seu barraco, no Morro dos Macacos, em Vila Isabel. Bidá morreu no Morro do Querosene, no Catumbi, e Passo Errado, no Morro do Tuiuti, em São Cristóvão.
Seu presidente de honra foi o ex-delegado de polícia e deputado estadual Sivuca, do PSC. Segundo ele, as iniciais "E.M." no brasão da Scuderie Le Cocq significam "Esquadrão dos Motociclistas", divisão à qual pertencia o detetive Milton Le Cocq, e que protegia o presidente Getúlio Vargas, e não Esquadrão da Morte.
O ex-delegado explica que os integrantes da Scuderie prendiam criminosos, mas a orientação era agir dentro da lei. "Mas tínhamos uma regra. Se o criminoso reagisse à prisão, era morto, sem dúvida." E revelou que a fama de matadores surgiu porque muitos associados cometiam excessos. Um deles foi o policial Mariel Maryscotte de Matos, que, por descumprir regras, acabou expulso do grupo na década de 1970 e foi assassinado em 1981. "Tinha muito Le Cocquiano que matava e, depois, ligava para a imprensa".
Atualmente a Scuderie Le Cocq mantém um prédio nas proximidades da favela Paula Ramos, no Rio Comprido (zona norte), e conta com menos de cinquenta associados que dão uma pequena taxa apenas para manter o grupo, pagar impostos e realizar obras sociais na favela. O presidente do grupo é Antônio Augusto de Abreu, que comanda também a Associação Atlética Portuguesa, clube da Ilha do Governador.
À frente da Scuderie há seis anos, desde a morte do delegado Luís Mariano, Abreu declarou que o grupo vive um período de dificuldades financeiras e sua principal atuação é realizar projetos sociais na Paula Ramos e dar pequenas contribuições a asilos e orfanatos.
"Distribuímos brinquedos e presentes no Natal, em dia de São Cosme e São Damião. A comunidade nos respeita", disse.
A Le Cocq também cede seu espaço, um terreno de quase 5.000 metros quadrados, para os moradores realizarem atividades esportivas, festas e até campanhas de vacinação.
Segundo Abreu, além de policiais, integram a atual Scuderie comerciantes, jornalistas, cantores e professores.
Apesar de os integrantes terem respaldo dos moradores da Paula Ramos, Sivuca disse que uma das razões que levaram a Le Cocq a parar de combater o crime é a proximidade de sua sede com uma área dominada por traficantes de drogas.