As características de um criminoso segundo Cesare Lombroso
Cesare Lombroso (1835-1909) é considerado o pai da criminologia moderna. adepto da fisiognomia ele propôs um extenso estudo das características físicas de loucos, criminosos, prostitutas e “pessoas normais” em sua Itália natal. Hoje em dia, a maior parte de suas conclusões soam preconceituosas e tendenciosas, sendo que a maior parte das características citadas não aparecem numa porcentagem realmente impressionante para serem consideradas padrão de uma pessoa má.
Não obstante, o estudioso parece firme em suas convicções e foi bastante respeitado em seu tempo, e algumas dessas noções – infelizmente – são ouvidas ainda hoje com uma frequência alarmante. Neste post destacarei quais seriam as características físicas que definiriam um homem como criminoso, e também uma mini biografia de criminosos famosos citados por Lombroso em seu artigo.
Para começar, os criminosos seriam mais altos que a média (e isso significava 1,69m na Veneza e 1,70 na Inglaterra), teriam crânios menores que os dos homens “normais” e maiores do que os crânios dos “loucos”, além de uma aparência desagradável, mas não deformada, sendo que estupradores e sodomitas teriam feições feminilizadas.
Outras características comuns seriam orelhas de abano, nariz adunco, queixo protuberante, maxilar largo, maçãs do rosto proeminentes, barba rala, cabelos revoltos, caninos bem desenvolvidos (olha só uma prerrogativa para vampiros aí), cabelos e olhos escuros. Ladrões teriam olhar esquivo, já os assassinos um olhar firme e vidrado. Seriam ainda especialmente insensíveis à dor.
Socialmente, criminosos teriam preferência por tatuagens o que provaria sua insensibilidade à dor. Os locais preferidos para tatuagens em geral (não necessariamente entre criminosos) seriam os ombros, o peito (marinheiros) a parte interna do braço e os dedos (mineiros). Criminosos teriam tatuagens nas costas ou nos genitais, muitas vezes denotando uma gangue ou imagens obscenas. Criminosos seriam ainda infantis, empáticos e extremamente vaidosos (a ponto de facilitar o trabalho de seus perseguidores) e um senso de moral extremamente apurado. Suas paixões exacerbadas que levariam a reações desproporcionais e criminosas às ações mais triviais. Isso sem contar seu interesse antinatural pelo mórbido.
Entre as mulheres, o que denotaria o potencial criminoso seria uma certa masculinidade nos traços e na voz, causados por um excesso de pelos corporais, verrugas, cordas vocais grossas com relação à laringe, mamilos pequenos ou muito grandes e mesmo sua forma de escrever. As mulheres criminosas seriam em geral mais cruéis que os homens, e possuiriam vitalidade, reflexos e força incomuns.
A leitura deste texto é revoltante não só por seus conteúdos, mas também pela apresentação falaciosa de dados e números. Lombroso parte de um modelo dedutivo e faz conclusões extrapolando em muito o significado dos números que ele mesmo apresenta. Mas a fisiognomia não era exclusividade deste autor. Ele cita diversos estudiosos em seu artigo que corroboram sua tese e alguns deles usam dados ainda menos precisos que os apresentados pelo italiano.
Por outro lado, o texto é riquíssimo para um pesquisador da época, pois é um retrato dos preconceitos sociais da Europa no século XIX, algo muito característico de seu tempo. Isso sem contar na citação dos criminosos que fizeram nome na época, como:
Martin, nascido em l’Ain na França, foi um assassino em série que se passava por empregado de um senhor à procura de empregadas domésticas. Assim, ele as levava à casa do suposto senhor, para então assassiná-las. Seu método de preferência era o enforcamento com corda, e ficou famoso por supostamente beber o sangue de suas vítimas. Martin e sua esposa foram capturados após Marie Pichon escapar de seus planos. Martin morreu guilhotinado em maio de 1862 enquanto sua mulher, considerada cúmplice por ajudar a se desfazer dos corpos e usar a roupa de suas vítimas, foi condenada a 20 anos de trabalhos forçados. Teria assassinado pelo menos 3 mulheres, mas o número total é desconhecido.
Padre francês condenado em 1822 pelo estupro e assassinato de Marie Guérin, uma garota de sua paróquia. Ele esquartejou sua vítima, e fugiu após ter sido avisado que as evidências pendiam para sua condenação. Segundo Lombroso, sua testa baixa, orelhas grandes e maxilar grande seriam indicativos de uma predisposição ao crime. Pouco encontrei sobre ele além de seu crime, mas se encontram dados sobre este assassino em vários registros históricos
Lacenaire foi um poeta e assassino francês, nascido em Lyon em 1800 (ou 1803, segundo o Wikipedia) e morto em 1836. Desertou de seu serviço militar em 1829 e no mesmo ano assassina o sobrinho de Benjamin Constant em um duelo. É ainda responsável por diversos roubos, pelos quais foi preso algumas vezes e em 1834 comete o duplo homicídio (um travesti e sua mãe) que o levaria à guilhotina em 1836.