segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

A única solução para acabar com o crime é criar a polícia penal


Escutas revelam ordens de dentro de presídio para assassinatos no RS
Áudios mostram grupo negociando armas e ordenando mortes da cadeia. Além de cometer crimes, presos debocham da polícia do Rio Grande do Sul.
09/02/2015 13h57 - Atualizado em 09/02/2015 15h35
Do G1 RS
Gravações de ligações telefônicas mostram como agiam os detentos envolvidos em a
ssassinatos e tráfico de drogas no Vale do Sinos do Rio Grande do Sul. A quadrilha foi alvo de uma operação do Ministério Público que cumpriu 10 mandados de prisão na manhã desta segunda-feira (9). Durante as investigações, foram obtidos áudios que mostram o grupo negociando armas, ordenando mortes e até debochando da polícia (veja o vídeo acima).
"Desce da moto e 'dá-le' todos nele, tá?", ordena um criminoso. A seguir, é possível ouvir tiros. O preso estava acompanhando o crime em tempo real por telefone. "Dá-le, dá-le, dá-le", comemora o detento após os disparos.
Os grupos agiam de dentro da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) e do Presídio Central de Porto Alegre.  Através dos celulares obtidos, os policiais descobriram que os criminosos estavam bem informados sobre as ações da polícia. Em uma das gravações, um deles alerta sobre a presença de agentes no Morro Santa Marta, no município de São Leopoldo.

"Me falaram. Avisa os teus guris para não ficarem na banda amanhã, que amanhã tem uns não sei quantos. Quase 500 policiais, entendeu?", afirma.
"Aham", responde o outro.

"Ia ser hoje, só que eles adiaram para amanhã, não sei por quê. Era pra ser hoje. Pega, aproveita esta oportunidade que te deram e avisa toda a tua rapaziada para sair de lá, que eles vão levantar todo mundo. Vão sair mais de cem pessoas presas", afirmou.
Eles ainda planejaram uma invasão para tomar o controle do morro. "Eu queria ver com vocês se vocês não chegam 'junto com nós'. Para nós, quanto mais gente, melhor, entendeu?", diz um criminoso. "Cinco minutos, nós resolvemos e voltamos embora. Eles vão largar tudo pelo mato de novo."
A operação também exigiu pessoal e tática de guerra. Por telefone, o criminoso orienta que cada um proteja as costas do outro. "Não é pra um ficar para trás e três irem correndo na frente. Todos chegando junto", avisa o detento. "Ô mano, mata tudo, não deixa escapar um", completa o criminoso.
Além de cometer crimes, os presos debocham, de maneira escancarada, das autoridades do Rio Grande do Sul. Um deles suspeita que está sendo grampeado e brinca.
"Tem 30 mil 'polícia' me escutando. Né, seu 'polícia'? Vou até cantar uma música pra ele. Seu 'gualda', eu não sou vagabundo, eu não sou delinquente", canta o detento, se referindo à canção "Dormi na Praça", da dupla Bruno e Marrone. "Cai fora, seu 'gualda'", completa.
Investigações
No ano passado, foram apreendidos mais de 2,6 mil celulares em presídios gaúchos. Durante os 12 meses da investigação, o Ministério Público apreendeu carros, dinheiro, armas, drogas e prendeu 30 pessoas. Pelo menos sete mortes foram evitadas.
A Superintendência dos Serviços Penitenciários, disse, em nota, que trabalha para combater a criminalidade dentro dos presídios. Para isso, tem intensificado as revistas feitas pelos agentes em todas as cadeias e já está usando o scanner corporal, aparelho que fiscaliza a entrada de drogas e outros objetos com visitantes.
Detentos comandavam tráfico de dentro de penitenciárias (Foto: Divulgação/Ministério Público)Detentos comandavam tráfico de dentro de penitenciárias (Foto: Divulgação/Ministério 

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