Preso Bandido do PCC que tinha a "missão" de levantar os endereços de agentes penitenciários
Sindicato da categoria repassou e-mail com medidas de segurança.
Justiça analisa pedido do MP para transferir 35 presos para RDD.
Do G1 São Paulo
Um integrante da facção que age dentro e fora dos presídios paulistas foi preso em Presidente Prudente e confessou que tinha a "missão" de vigiar agentes penitenciários de presídio em Presidente Venceslau.
No vídeo exibido no Jornal Hoje, ele diz a um policial que "mandaram olhar e levantar" os endereços de três funcionários da penitenciária onde estão presos chefes da facção.
O Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária do Estado de São Paulo (Sindasp), com 6 mil agentes filiados, informou ao G1 que passou a enviar comunicados por e-mail alertando seus filiados sobre medidas de segurança que deverão ter tomadas. “O sindicato está distribuindo e-mail para seus associados orientando-os a trabalharem com cautela, cuidado. A gente fica do lado da Justiça, mas a gente sabe que se ocorrer a transferência vai sobrar para nós. Nós somos o ponto mais fraco das forças de segurança”, disse o presidente Daniel Grandolfo.
De acordo com Grandolfo, apesar de ter se reunido com o secretário Lourival Gomes, da SAP, na última sexta-feira (11), o Sindasp ainda não solicitou pedido de reforço na segurança dos agentes. “Falamos na capital com o secretário sobre nosso receio em relação às transferências, mas falamos também de outros assuntos pertinentes à categoria, como quadro funcional etc”.
A sede do Sindasp fica em Presidente Prudente, interior do estado, onde estão alguns dos membros presos da facção em presídios da região. Ao todo, SP tem mais de 30 mil agentes filiados em três sindicatos.
De acordo com agentes penitenciários ouvidos pelo G1, eles estão em alerta desde o dia 3 de outubro. “Quando policiais militares da Rota [Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar] prenderam em Presidente Prudente um homem suspeito de fazer ‘campana’ contra os agentes e autoridades, anotando os horários de entrada e saída deles nas penitenciárias”, disse um agente que pediu para não ser identificado.
O RDD existe atualmente em Presidente Bernardes, considerada uma prisão de segurança máxima. Nesse regime, o preso não recebe visita íntima e só tem direito a duas horas de banho de sol por dia. Também não tem acesso a aparelhos de rádio e TV e não pode ler jornais e revistas. Quando pode falar com advogados, as conversas são monitoradas.
"Represália"
De acordo com Grandolfo, interceptações telefônicas feitas pelo setor de inteligência da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) flagraram conversas entre membros da quadrilha planejando uma "resposta’, uma "represália" à transferência de 35 chefes do grupo criminoso para o Regime Disciplina Diferenciado (RDD).
“Um dos caras [criminosos] fala assim: ‘Isso não pode ficar assim, irmão. Vai ter que ser cobrado. Se arrastar os irmão [Sic] nós vamos ter que cobrar essa fita aí. Isso não pode deixar quieto’”, disse Daniel Grandolfo sobre as gravações que teve conhecimento. “A gente pode imaginar tudo: atentado nas ruas e rebeliões nos presídios”.
O G1 procurou a assessoria de imprensa da SAP para comentar o assunto, mas a pasta não respondeu ao questionamento até a publicação desta matéria.
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) analisa o pedido de transferência das lideranças da facção feito pelo Ministério Público (MP), que no mês passado também denunciou 175 pessoas acusadas de integrar a quadrilha. Todos os pedidos foram negados pela Justiça e a Promotoria recorreu. A assessoria de imprensa do TJ foi procurada nesta segunda para comentar o assunto, mas não havia respondido aos pedidos da reportagem até a publicação desta matéria.
“O momento é de tensão no sistema [prisional]. Caso o pedido do MP para transferir os chefes da facção seja concedido pela Justiça, tememos uma represália do crime organizado como houve em 2006, quando agentes e policiais foram mortos por criminosos”, afirmou Grandolfo a respeito dos atentados orquestrados pela facção contra as forças de segurança do estado. Naquela ocasião, os ataques ocorreram após a transferência de chefes do grupo.
De acordo com o sindicato, 38 agentes foram executados pelo crime organizado em 2006. Em 2012, durante a onda de violência entre criminosos e policiais, foram 18 agentes mortos pela facção. Neste ano, 12 já foram assinados por ordem da quadrilha.
Segundo o Sindasp, o "salve", como os criminosos chamam as ordens que devem ser executadas, ainda não foram ordenadas. “O setor de inteligência da SAP ainda não detectou nenhum "salve" para quebrar nenhuma cadeia, ou matar agente penitenciário ou policiais militares. Percebemos que os presos estão sendo monitorados pelo MP e setores de inteligência da Polícia. Mas temos ressalvas porque nesse momento os agentes estão preocupados. O momento é de tensão no sistema”, disse Grandolfo.
“Nessas conversas, a facção está bem confiante que não vai haver nada, que Tribunal [de Justiça de SP] não vai trancar os caras. Não trancando não vai haver nada. Se trancar haverá alguma represália. Vidas vão ser ceifadas. Alguns de nós vão morrer, infelizmente.”