Detentas buscam nas colegas maneira de driblar a solidão
Abandonadas por companheiros, mulheres têm cada vez mais relacionamentos entre si nas prisões; visitas íntimas é direito exclusivo da casadas
PUBLICADO EM 16/11/14 - 04h00
Vindas dos quatro cantos do Estado, com as mais diversas trajetórias, ao entrarem no sistema prisional, elas veem suas histórias se cruzarem, e a vida se resumir a uma só realidade: um número de registro e o uniforme vermelho. Seja por furto, roubo, tráfico de drogas ou homicídio, boa parte das vezes a prisão significa para elas – muito mais do que para os homens – o abandono total. Largadas por maridos, namorados e companheiros, muitas presas acabam buscando nas colegas de cela o carinho e a atenção perdidos com a privação da liberdade. Muitas vezes a necessidade de suprir todo o vazio dessa solidão, segundo relatos das próprias detentas e também de quem convive de perto com a vida por trás das grades, favorece relacionamentos amorosos entre mulheres nos presídios, mais frequentes do que os encontrados entre homens nas unidades prisionais masculinas.
Segundo levantamento da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) de Minas, o número de parceiros cadastrados para visitar mulheres presas é, proporcionalmente à população carcerária, três vezes menor que o de parceiras registradas para visitar homens presos. Das 2.949 mulheres detidas atualmente no sistema prisional mineiro, apenas 337 – 11,4% – possuem maridos, companheiros ou namorados cadastrados para visita. No caso dos homens, o percentual é de 34,1%.
Presidente da Coordenação Nacional de Acompanhamento do Sistema Prisional e conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas (OAB-MG), Adilson Rocha afirma que é comum mulheres serem abandonadas pelos parceiros ao serem presas, ao contrário do que acontece quando um homem é preso. “O percentual de visita dos companheiros é muito pequeno porque, na maioria dos casos, ele está preso ou também tem envolvimento com o crime, e o presídio não é um local aonde queira ir. E, em razão do abandono que há do companheiro, a presa pode acabar se envolvendo com outra mulher”, sugere, destacando a enorme carência afetiva, sexual e emocional de muitas detentas.
Rocha acredita que é comum mulheres que nunca tiveram um relacionamento homossexual anterior, dependendo do tempo de prisão, acabarem mostrando interesse por pessoas do mesmo sexo. Em setembro, o casamento em um presídio paulista de Suzane von Richthofen, condenada a 38 anos de prisão pela morte dos pais, com Sandra Regina Gomes, condenada a 27 anos pelo sequestro e morte de um adolescente, trouxe à tona o debate em torno do comportamento de detentas em todo o país. Quando presa, há 12 anos, Suzane namorava Daniel Cravinhos de Paula e Silva, com quem, inclusive, arquitetou o crime.
Reportagem publicada pelo jornal “Folha de S.Paulo” no mês passado mostrou que, graças ao novo romance, Suzane ocupa agora uma cela especial de presas casadas, onde divide espaço com mais oito casais, em Tremembé (SP). O novo amor de Suzane é ex-mulher de Elize Matsunaga, presa pelo esquartejamento do marido em 2012.
Relacionamentos entre mulheres presas, no entanto, não são exclusividade dos presídios paulistas. “Acho que isso é moda. Eu diria que 50% das presas daqui são (homossexuais)”, conta presidiária do Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, no Horto, na região Leste da capital, sob anonimato. “Tem gente que nem era lá fora, mas entra no pique. Geralmente não tem ninguém que visita, aí vem a carência”.
Visitas íntimas, somente para as casadas
Apesar do grande número de relacionamentos amorosos entre mulheres nos presídios, apenas quem é casada ou possui união estável tem direito à visita íntima. Segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), a regra vale tanto para homens quanto para mulheres, que só têm direito a ficar sozinhos em uma mesma cela quando apresentam documento comprovando a união, e, ainda assim, esporadicamente e mediante agendamento.
As visitas íntimas são realizadas em celas próprias, que possuem cama de casal e banheiro. Para conseguir o benefício, as presas precisam passar por exames médicos e entrevista com o serviço social da unidade. Autorizadas, elas terão direito a visitas na frequência e horário estabelecidos pelo presídio. Com as restrições, a saída para quem não é casada, muitas vezes, é trocar carinhos no banho de sol.
Na penitenciária feminina Estevão Pinto, das 362 detentas, há somente um casal de mulheres com a união oficializada e que pode usar uma das três celas especiais. Outras 16 presas recebem visitas íntimas de companheiros. Os encontros são quinzenais e acontecem de segunda a sexta-feira, das 18h às 6h.
O advogado Adilson Rocha ressalta, porém, que trata-se de uma exceção. “Independentemente da orientação sexual da pessoa, ela tem direito ao encontro íntimo. Mas, 90% das presas não têm essa oportunidade, mesmo que tenham um companheiro, porque o estabelecimento prisional quase sempre não tem espaço”, afirma.
A Seds confirmou, por meio de nota, que, nas unidades que não possuem cela adequada, as visitas íntimas não acontecem. “De acordo com a legislação, o Estado não é obrigado a oferecer esse tipo de visita ao pres
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