quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Aparelhos de Raio X afetam saúde dos agentes penitenciários

Denúncia aponta que aparelhos causaram até abortos


VILMARA FERNANDES | vfernandes@redegazeta.com.br

 Carlos Alberto Silva
A Penitenciária de Vila Velha I, em Xuri, é uma das unidades que utilizam o bodyscanner nas vistorias
Os agentes penitenciários que manipulam os aparelhos de raios x utilizados na vistoria de quem visita os presídios capixabas podem estar sendo contaminados por radiação. A denúncia foi feita pelo Conselho Regional de Técnicos em Radiologia, que apontou o uso inadequado dos equipamentos, conhecidos como bodyscanners. O material está sendo avaliado pelo Ministério Público Estadual.

Além dos agentes, mais de 20 mulheres suspeitam de que os equipamentos causaram a morte de seus bebês, por abortos ocorridos nos primeiros meses de gestação. Todas passaram por vistorias com aparelhos de raios x em duas unidades prisionais: Penitenciária de Vila Velha I (PEVVI), em Xuri, e no Centro de Detenção Provisória II (CDPVII), em Viana.
Drama

O drama dessas vítimas foi divulgado, com exclusividade, na edição deste domingo (10) de A GAZETA. Em alguns casos, como apontou o presidente regional do Conselho, Marcos Neppel, mulheres no início da gestação foram obrigadas a passar pelos equipamentos mais de seis vezes.

O problema ocorre quando os agentes suspeitam do transporte de objetos ilegais, como drogas ou celulares, nas cavidades do corpo. “Desconhecem a anatomia humana, interpretam um feto como uma mancha e presumem que possa ser droga”, diz Neppel.

Em fiscalizações feitas em junho e agosto, o fiscal do Conselho Josiel de Oliveira identificou várias irregularidades nos presídios. Além da ausência de técnico em radiologia, as máquinas estão instaladas em locais inadequados, e quem as manipula não utiliza equipamentos de proteção. “Estão totalmente expostos”, explicou Josiel.

Falta, por exemplo, um dosímetro, marcador diário da radiação a que o funcionário está exposto. “O aparelho é fundamental para indicar se os níveis de radiação recomendados pelas organizações de saúde estão sendo seguidos”, diz Josiel. Sem isso, o funcionário não tem como provar sua exposição excessiva à radiação.

O presidente da Associação dos Servidores do Sistema Penitenciário (Aspen), Márcio José de Oliveira, relata que alguns agentes reclamam de queda de cabelo e fortes dores de cabeça.

Equipamentos funcionam sem autorização

O equipamentos de raios x funcionam nos presídios capixabas sem a avaliação da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Segundo informações da própria comissão, o uso dos aparelhos deve ser precedido de avaliação técnica feita por ela e de autorização específica para o responsável pelo equipamento.

Para Ricardo Guterres, da Divisão de Aplicações Médicas e da Pesquisa da CNEN, a dose de radiação emitida por esses equipamentos é baixa e não oferece risco à saúde. Mas ressalta que isso pode mudar em decorrência do número de vezes em que as pessoas são submetidas às vistorias.

Quando autoriza o equipamento, a CNEN indica o número máximo de inspeções que podem ser realizadas em cada pessoa. Se a recomendação for seguida, não há riscos.

Sejus não recebeu denúncias

A Secretaria Estadual de Justiça (Sejus) afirma não ter recebido reclamações dos agentes penitenciários ou de pessoas que visitam os presídios e que tiveram problemas após terem passado pela vistoria nos equipamentos de raios x. De acordo com o secretário Sérgio Alves, os agentes, incluindo os que manipulam os aparelhos, trabalham em sistema de escala, em que atuam por 24 horas e folgam em outras 72 horas. “Mas não temos reclamações de saúde”, informou.

Alves avalia que as denúncias contra a utilização de equipamentos de raio x representam um ataque de agentes penitenciários envolvidos com organizações criminosas ao sistema de segurança adotado nas unidades. “A suspensão do uso dos equipamentos favorece o crime”, destaca o secretário.

Ele frisa ainda que a presença dos equipamentos, só nos últimos três meses, permitiu a autuação de nove pessoas que tentavam entrar nas unidades portando drogas.

Fonte: A Gazeta

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