Denúncia Motoristas são coagidos por `despachantes´ no Detran-MG
Sindicato diz que ‘profissionais’ não têm registro e agem como flanelinhas
FOTO: ANGELO PETTINATI
Ação. Despachante tenta convencer motorista a usar "serviços" prestados por ele nas imediações da sede do Detran, na Gameleira
As barreiras para quem quer fazer uma transferência de veículo sem passar por um despachante vão muito além da burocracia na preparação dos documentos. É praticamente impossível chegar à fila de vistoria do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG), na Gameleira, região Oeste de Belo Horizonte, sem ser abordado por, no mínimo, cinco pessoas oferecendo serviços de despachantes. Se fosse apenas a oferta da prestação do trabalho, o problema não seria tão grave. A questão é que, na grande maioria das vezes, a abordagem é agressiva e, em alguns casos, há até coação para contratação do serviço.
Uma economista que não quis se identificar já havia contratado um despachante, mas chegou sozinha à fila e teve que dar explicações para não ter que contratar um outro profissional. "Ele disse que obrigatoriamente eu teria que pagar R$ 5 para ficar ali. Quando disse que já tinha despachante, ele me levou até uma loja próxima, onde tive que falar o nome de quem eu tinha contratado para então me liberar da cobrança", conta.
Há também um esquema para furar a fila. "Eu fiquei duas horas esperando a minha vez. Quando estava chegando perto da entrada do Detran, um homem me mandou esperar, porque outro carro iria passar à minha frente", conta o motorista José Carlos. O veículo só não furou a fila porque ele começou a discutir com o rapaz. "Ele viu que eu iria criar caso e deixou eu seguir à frente, mas, em seguida, ele parou o carro que estava atrás de mim e conseguiu furar a fila", diz.
A reportagem de O TEMPO visitou o local e foi recebida da mesma forma pelos agenciadores oferecendo os serviços. Mas os problemas não pararam por aí. Ao tentar estacionar o veículo, um flanelinha chegou até onde estava o carro e tentou cobrar, antecipadamente, o valor de R$ 5 para deixar o carro no local.
Ele só desistiu da cobrança após o motorista afirmar que esperaria dentro do carro. A poucos metros do Detran-MG, não havia nenhum policial para coibir a atuação desenfreada dos flanelinhas no local.
ALERTA. O presidente do Sindicato dos Despachantes de Trânsito de Minas Gerais, Orlando Reis, afirma que os homens que atuam livremente nas imediações do Detran-MG não são despachantes credenciados e que a questão é de responsabilidade das autoridades policiais. "Não são despachantes. São agenciadores. Não são sindicalizados e atuam da mesma forma que flanelinhas", explica o dirigente. Ele ainda credita os problemas na porta do Detran-MG às questões sociais. "Muitos deles são pessoas em situação de vulnerabilidade. Alguns são usuários de drogas que aproveitam a situação pra ganhar um dinheiro a mais para comprar entorpecentes. Eu já soube até de roubo de carro no local", afirma Reis.
Por meio de nota, a Polícia Civil afirma que as pessoas que sofrerem algum tipo de coação devem fazer queixas na delegacia, mas diz que quem deve fazer a fiscalização de despachantes é o próprio sindicato da categoria. O texto também afirma que 90% dos procedimentos são feitos pela internet e garante que a fila é respeitada. "Para concluir o serviço de vistoria, a Divisão de Registro de Veículos faz a distribuição de senhas, e o atendimento é priorizado por ordem de chegada", informa a nota oficial.
Uma economista que não quis se identificar já havia contratado um despachante, mas chegou sozinha à fila e teve que dar explicações para não ter que contratar um outro profissional. "Ele disse que obrigatoriamente eu teria que pagar R$ 5 para ficar ali. Quando disse que já tinha despachante, ele me levou até uma loja próxima, onde tive que falar o nome de quem eu tinha contratado para então me liberar da cobrança", conta.
Há também um esquema para furar a fila. "Eu fiquei duas horas esperando a minha vez. Quando estava chegando perto da entrada do Detran, um homem me mandou esperar, porque outro carro iria passar à minha frente", conta o motorista José Carlos. O veículo só não furou a fila porque ele começou a discutir com o rapaz. "Ele viu que eu iria criar caso e deixou eu seguir à frente, mas, em seguida, ele parou o carro que estava atrás de mim e conseguiu furar a fila", diz.
A reportagem de O TEMPO visitou o local e foi recebida da mesma forma pelos agenciadores oferecendo os serviços. Mas os problemas não pararam por aí. Ao tentar estacionar o veículo, um flanelinha chegou até onde estava o carro e tentou cobrar, antecipadamente, o valor de R$ 5 para deixar o carro no local.
Ele só desistiu da cobrança após o motorista afirmar que esperaria dentro do carro. A poucos metros do Detran-MG, não havia nenhum policial para coibir a atuação desenfreada dos flanelinhas no local.
ALERTA. O presidente do Sindicato dos Despachantes de Trânsito de Minas Gerais, Orlando Reis, afirma que os homens que atuam livremente nas imediações do Detran-MG não são despachantes credenciados e que a questão é de responsabilidade das autoridades policiais. "Não são despachantes. São agenciadores. Não são sindicalizados e atuam da mesma forma que flanelinhas", explica o dirigente. Ele ainda credita os problemas na porta do Detran-MG às questões sociais. "Muitos deles são pessoas em situação de vulnerabilidade. Alguns são usuários de drogas que aproveitam a situação pra ganhar um dinheiro a mais para comprar entorpecentes. Eu já soube até de roubo de carro no local", afirma Reis.
Por meio de nota, a Polícia Civil afirma que as pessoas que sofrerem algum tipo de coação devem fazer queixas na delegacia, mas diz que quem deve fazer a fiscalização de despachantes é o próprio sindicato da categoria. O texto também afirma que 90% dos procedimentos são feitos pela internet e garante que a fila é respeitada. "Para concluir o serviço de vistoria, a Divisão de Registro de Veículos faz a distribuição de senhas, e o atendimento é priorizado por ordem de chegada", informa a nota oficial.
COMÉRCIO
Preços de produtos e serviços são até 2.500% mais altos
Quem conseguir driblar a coação dos despachantes, mas precisar de algum serviço de última hora, também vai ter que preparar o bolso. Isso porque o preço de uma simples cópia pode ficar 2.500% mais alto do que o valor cobrado em outras regiões. Enquanto a cópia de uma página custa, em média, R$ 0,10, o serviço é oferecido no entorno do Detran-MG por até R$ 2,50. O menor preço encontrado pela reportagem foi de R$ 0,35.
O valor das placas vendidas no local também está acima da média. Quando um dos ambulantes que estavam no local foi abordado, outros três tentaram disputar a possível venda. "Ele falou olhando para mim. Então, a venda é minha", esbravejou um dos homens, em tom ríspido. A "determinação" acabou respeitada pelos demais. Em seguida, ele ofereceu o jogo de placas por R$ 90. Durante a negociação, o preço caiu para R$ 70, mas ainda está acima do cobrado nas lojas onde é possível encontrá-las até por R$ 60.
Na hora de comprar o extintor, os próprios agenciadores desestimulam o comprador. "Olha, eu não tenho extintor aqui, mas nas lojas próximas é caro. Melhor você ir ao posto mesmo", diz um deles.
"Todo esse abuso de abordagem e de cobrança exagerada atrapalha o trabalho do despachante, que é regulamentado e preparado para isso", afirma o presidente do Sindicato dos Despachantes de Minas Gerais, Orlando Reis. (BM)
O valor das placas vendidas no local também está acima da média. Quando um dos ambulantes que estavam no local foi abordado, outros três tentaram disputar a possível venda. "Ele falou olhando para mim. Então, a venda é minha", esbravejou um dos homens, em tom ríspido. A "determinação" acabou respeitada pelos demais. Em seguida, ele ofereceu o jogo de placas por R$ 90. Durante a negociação, o preço caiu para R$ 70, mas ainda está acima do cobrado nas lojas onde é possível encontrá-las até por R$ 60.
Na hora de comprar o extintor, os próprios agenciadores desestimulam o comprador. "Olha, eu não tenho extintor aqui, mas nas lojas próximas é caro. Melhor você ir ao posto mesmo", diz um deles.
"Todo esse abuso de abordagem e de cobrança exagerada atrapalha o trabalho do despachante, que é regulamentado e preparado para isso", afirma o presidente do Sindicato dos Despachantes de Minas Gerais, Orlando Reis. (BM)
Saiba como transferir seu veículo
Valores. R$ 122,58 é o preço da taxa cobrada pelo Detran-MG para fazer a transferência de veículo, incluindo a vistoria, que deve ser realizada presencialmente no bairro Gameleira, na região Oeste de Belo Horizonte.
Procedimento. Além de pagar a taxa para fazer a transferência, é preciso o preenchimento da ficha cadastral e apresentação de cópia da carteira de identidade e do CPF de quem está adquirindo o veículo.
Fila. Apesar dos relatos de venda de lugar na fila, o Detran-MG garante que é respeitada a ordem de chegada, inclusive com distribuição de senhas. O órgão também destaca que 90% dos procedimentos podem ser feitos pela internet e que a contratação de despachante é uma prerrogativa do cidadão.
Preços. O custo de uma cópia no local chega a ser até 2.500% mais alto do que o valor cobrado pelo serviço em outros lugares.
FONTE: O TEMPOProcedimento. Além de pagar a taxa para fazer a transferência, é preciso o preenchimento da ficha cadastral e apresentação de cópia da carteira de identidade e do CPF de quem está adquirindo o veículo.
Fila. Apesar dos relatos de venda de lugar na fila, o Detran-MG garante que é respeitada a ordem de chegada, inclusive com distribuição de senhas. O órgão também destaca que 90% dos procedimentos podem ser feitos pela internet e que a contratação de despachante é uma prerrogativa do cidadão.
Preços. O custo de uma cópia no local chega a ser até 2.500% mais alto do que o valor cobrado pelo serviço em outros lugares.
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