terça-feira, 3 de julho de 2012

Europeus vendem os próprios órgãos para sobreviver à crise
Um pulmão chega a ser oferecido por US$ 250 mil (R$ 500 mil)
Publicado no Jornal OTEMPO em 02/07/2012
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DAN BILEFSKY


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FOTO: IAN WILLMS/THE NEW YORK TIMES
Esperança. Pavle Microv, pai de dois filhos, anunciou seu rim há seis meses, quando perdeu o emprego, mas ainda não obteve resposta
Belgrado, Sérvia. Pavle Microv e sua namorada, Daniella, conferem, ansiosamente, a caixa de e-mail do casal a cada 15 minutos, desesperados por uma salvação econômica: um comprador disposto a pagar quase USD 40 mil (cerca de R$ 80 mil) por um dos rins do casal.

Pavle e Daniella, pais de dois adolescentes, colocaram seus órgãos à venda em uma página local de classificados na internet há cerca de seis meses, depois de Pavle, 50, ter perdido seu emprego em uma fábrica de carne. Desde então, ele não conseguiu encontrar um novo emprego, segundo conta, e tem ficado cada dia mais desesperado.

Quando seu pai faleceu, recentemente, Pavle não teve dinheiro para comprar um jazigo. Seu telefone está cortado. A única extravagância da família, agora, é uma refeição diária de pão com salame. "Quando você precisa ‘botar’ comida na mesa, vender um rim não parece um sacrifício tão grande", afirma.

Segundo especialistas, desesperados pela pobreza, europeus estão cada vez mais dispostos a venderem seus rins, pulmões, medulas ou córneas. O fenômeno é relativamente novo na Sérvia, uma nação que foi despedaçada por guerras e agora luta para sobreviver à crise financeira que varreu o continente.

A difusão da venda de órgãos na Europa, que tem sido cada vez mais comum, foi impulsionada pela internet, por uma falta global de órgãos e, em alguns casos, por traficantes sem escrúpulos, prontos para explorar a miséria econômica da população.

Na Espanha, Itália, Grécia e Rússia, anúncios de pessoas oferecendo órgãos - bem como cabelos, sêmen e leite materno - se acumulam na internet, com preços como o de um pulmão, oferecido por US$ 250 mil (R$ 500 mil).

No fim de maio deste ano, a polícia israelense deteve dez membros de uma organização criminosa internacional suspeita de tráfico de órgãos na Europa, segundo oficiais da polícia da União Europeia. De acordo com os oficiais, os suspeitos tinham como alvo as populações empobrecidas de Moldávia, Cazaquistão, Rússia, Ucrânia e Bielorrússia.

"O tráfico de órgãos é uma indústria em crescimento", afirma Jonathan Ratel, um promotor especial da União Europeia que conduz um caso contra sete pessoas acusadas de convencerem vítimas pobres da Turquia e de países anteriormente comunistas, como Kosovo, a venderem seus rins com a falsa promessa de que do pagamento de até US$ 20 mil (cerca de R$ 40 mil). "Grupos internacionais de Crime organizado usam como presa as pessoas vulneráveis dos dois lados da corrente: As pessoas sofrendo da pobreza crônica, e os pacientes desesperados e ricos, que fariam qualquer coisa para sobreviver", completa o promotor.

Tradicionalmente, os países que enviavam órgãos eram a China, a Índia, o Brasil e as Filipinas. Contudo, especialistas afirmam que os europeus estão cada vez mais vulneráveis.
Traduzido por Luiza Andrade
Casal recusou R$ 48 mil por rim; quer ao menos R$ 60 mil
Belgrado. Debruçado sobre seu computador em Kovin, há cerca de 40 km de Belgrado, Pavle Microv nos mostrou seu anúncio de venda de rim, que inclui seu tipo sanguíneo e número de telefone. "Preciso vender um rim", diz o anúncio. "Minha situação financeira está complicada. Perdi meu emprego e preciso de dinheiro para a escola dos meus dois filhos".

Depois de seis meses, Pavle conta que seus dias são cheios de esperança e decepções. Uma mulher da Macedônia ofereceu US$ 24 mil (R$ 48 mil) pelo rim de sua parceira, Daniella, mas o valor estava US$ 12 mil (R$ 24 mil) abaixo do que ela havia pedido. Daniella destaca que seu tipo sanguíneo é "O", o que aumenta o valor do órgão, porque as chances de rejeição são menores.(DB/NYT)
SÉRVIA
Pena de até dez anos de prisão
Nancy Scheper-Hughes, diretora da Organs Watch e professora de antropologia médica na Universidade da Califórnia, Berkeley, afirma que a tentativa de europeus empobrecidos em vender seus órgãos é reminiscência do período logo após o colapso da União Soviética, quando o desemprego crônico criou uma nova geração de "vendedores" de órgãos.

A troca de órgãos na Sérvia é ilegal, sujeita a uma pena de até dez anos de prisão. Contudo, isso não frustra a ação da população de Doljevac, um município pobre de cerca de 19 mil pessoas na Sérvia onde o governo recusou a tentativa de residentes locais se registrarem em uma agência local para venderem seus órgãos e sangue.

Violeta Cavac, uma dona de casa e porta-voz da organização, conta que a taxa de desemprego em Doljevac está acima dos 50%, e que mais de 3.000 pessoas quiseram se inscrever no banco de venda de órgãos. Sem um canal legal, ela diz, os residentes agora tentam vender partes de seus corpos nos países vizinhos, como Bulgária e Kosovo. "Vou vender meu rim, meu fígado, ou fazer qualquer coisa que me permita sobreviver", afirma.

Oficiais do governo da sérvia afirmam que o país não está pobre o suficiente para que a população venda seus órgãos. A polícia local afirma que, nos últimos dez anos, não houve nenhuma ocorrência de venda ilegal de órgãos. (DB/NYT)

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