Policiais civis são suspeitos de sumiço de 700 kg de maconha de delegacia
A carga desaparecida, avaliada em R$ 1,5 milhão, fez o Ministério Público ordenar investigação dos oficiais
ARQUIVO
Lei fixa 30 dias como limite para a destruição de entorpecentes apreendidos pela polícia
Policiais civis de Iturama, no Triângulo Mineiro, figuram entre os suspeitos do furto de 700 quilos de maconha de dentro da delegacia da cidade. A droga, avaliada em R$ 1,5 milhão, ainda não foi localizada. Na última sexta-feira, todos os funcionários da unidade – cerca de 25 pessoas, entre delegados, investigadores e prestadores de serviço terceirizados – tiveram as digitais coletadas. O objetivo é confrontar o material com o que foi recolhido pela perícia no local do crime. O requerimento foi feito pelo Ministério Público Estadual (MPE) e acatado pelo juiz e pelo delegado regional de Iturama.
A droga foi apreendida em 19 de novembro do ano passado e estava guardada em um banheiro. A maconha desapareceu na madrugada de 5 de dezembro. Quem a levou tinha a senha do alarme da delegacia, que foi desligado. Ainda não se sabe como foi feito o transporte do entorpecente, pois não há, até agora, testemunhas. O responsável pelo furto, porém, teria deixado digitais na porta de vidro que dá acesso à unidade da Polícia Civil.
Para identificar essa pessoa, e talvez outros envolvidos no episódio, o MPE devolveu o inquérito para a delegacia no fim do mês passado, solicitando novas diligências. Entre elas, a coleta de digitais de todos os funcionários do local.
O pedido foi apresentado mesmo após a prisão de três homens, em fevereiro deste ano, apontados pela Polícia Civil como autores do furto. Os suspeitos negam o crime e continuam atrás das grades. A promotoria considera, entretanto, que o fato não está esclarecido e, por isso, determinou que a investigação continuasse.
Alegando humilhação por parte do MPE, os policiais de Iturama não se conformam com a situação, apesar de terem cumprido a exigência. “Ficamos com medo de represálias, que alguém terminasse transferido caso se recusasse a fornecer as digitais. Isso não é certo”, diz um investigador, que pediu anonimato.
Ele alega que os policiais estariam sendo vítimas de perseguição. Também afirma que os colegas não estariam temerosos com relação ao resultado da perícia, que deve sair em 30 dias.
O investigador ainda acredita que a Justiça poderia ter prevenido a “saia-justa”. “Se tivessem acatado, antes, o pedido para incineração da maconha, isso não teria acontecido”, diz. Segundo ele, o cofre da delegacia armazenava outros 300 quilos de tóxicos. “Não cabia mais nada lá”. O artigo 32 da Lei 11.343/2006 fixa 30 dias como limite para a destruição de entorpecentes apreendidos. O prazo, porém, ainda não havia expirado, no caso de Iturama.
A maconha foi apreendida dentro de uma caminhonete que furou uma barreira montada pela Polícia Federal na divisa de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, próximo à cidade de Paranaíba.
Seis pessoas que estariam envolvidas no transporte foram detidas em Honorópolis, distrito de Campina Verde, no Triângulo Mineiro. A suspeita é a de que a droga seja parte de contrabando internacional. Foram encontrados, dentro do veículo, documentos do Paraguai.
Em nota, a Polícia Civil informou que, de acordo com o delegado Rodolfo Rosa Domingos, o inquérito policial retornou do Ministério Público Estadual há aproximadamente 20 dias para realização de outras diligências. O texto confirma que uma delas era a coleta de digitais de todos os policiais e servidores da unidade. Os demais procedimentos estão em andamento. A Corregedoria da Polícia Civil monitora as investigações.
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