sábado, 4 de agosto de 2012


São Joaquim de Bicas mata mais que a guerra do Iraque
Moradores foram obrigados a mudar rotina e vivem com medo da violência
Publicado no Jornal OTEMPO em 04/08/2012
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KARINA ALVES
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FOTO: FOTOS ALEX DE JESUS
Lamento. As irmãs Gleide e Leila se mudaram ainda crianças para a cidade; elas já testemunharam um assassinato durante uma procissão
No passado, os ‘clientes’ do senhor Raimundo da Silva, 65, eram, em sua maioria, doentes ou vítimas de acidentes. Mas hoje, o coveiro de São Joaquim de Bicas, na região metropolitana de Belo Horizonte, vive uma realidade bem diferente. Ele tenta se acostumar a enterrar garotos jovens, vítimas de assassinatos. A mudança na rotina do coveiro é reflexo do crescimento da violência no município, que hoje tem números maiores que os registrados durante a guerra do Iraque.

Os dados oficiais, da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), dão conta de que a cidade registrou 15 homicídios de janeiro a maio deste ano. Uma fonte da Polícia Civil garante que o total já chega a 27, se somados os meses de junho e julho. Com esse número, a projeção para o fechamento do ano é de 192 mortes para cada 100 mil habitantes. No auge da guerra do Iraque, entre os anos de 2004 e 2007, ela era de 68 mortes para cada 100 mil habitantes.

E a violência vem crescendo. Durante todo o ano passado, foram registrados 16 assassinatos em São Joaquim de Bicas - o aumento foi de 68,75%.
Mudança. Com o crescimento da criminalidade, os moradores da cidade se viram obrigados a se adaptar. Já pela manhã, as ruas do bairro Bicas Velhas, um dos primeiros do município, lembram uma cidade deserta. Casas com portas e janelas fechadas, comércios vazios e até protegidos por grades indicam como a população se retraiu.

"Tudo mudou muito. Há dois anos, eu acompanhava a procissão da igreja e vi um homem ser assassinado. Todo mundo ficou em pânico. Hoje, ninguém fica na rua durante a noite. São Joaquim de Bicas acabou", afirmou a comerciante Leila Bastos, que chegou à cidade ainda criança e cresceu com as portas de casa abertas e liberdade para ficar na rua. "Antes era muito movimentado, mas a festa do padroeiro agora fica vazia", completa a irmã dela, a vendedora Gleide Bastos, 43.

O coveiro Raimundo da Silva lamenta as mudanças na cidade e em sua rotina. Ele conta que já chegou a enterrar 15 vítimas de assassinatos em pouco mais de um mês. "Pior. Já cheguei a enterrar quatro em um só dia".
Autoridade. Procurada, a assessoria da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) disse que fará uma reunião para tratar do problema, mas não informou a data.

Nenhum representante da Seds foi indicado para dar entrevista. Questionada sobre os números atualizados da violência na cidade, a assessoria informou que precisa de um prazo de 48 horas para repassar a informação.
Perigo
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PROBLEMA
Falta de estrutura é entrave para polícia
A falta de pessoal e de estrutura dificulta o trabalho dos policiais que atuam no município. Há apenas um delegado e sete policiais civis para cuidar das tarefas administrativas e de investigações na cidade que tem 25 mil moradores.

"Não tenho nenhum inquérito policial concluído em mãos. A polícia corre atrás, mas não tem como investigar com o efetivo que temos hoje", afirmou o promotor Hugo de Barros.
Viaturas. Além de problemas na solução dos inquéritos, há dificuldade no trabalho ostensivo. O pelotão da Polícia Militar conta com 36 militares e apenas três viaturas. "E já melhorou. Até dois meses atrás, nós tínhamos apenas uma viatura para todo o efetivo da cidade", contou uma fonte da polícia.

Segundo o policial, problemas de infraestrutura tomam muito tempo do pelotão. "Se a gente tem um corpo, tem que levar para o IML de Betim, e a regional da Polícia Civil é em Juatuba (ambos são municípios limítrofes). Para abastecer a viatura, temos que ir até Belo Horizonte (a 40 km), só pode lá. Fica um vai e vem o dia todo". (KA)

Um comentário:

Anônimo disse...

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