Terminou às 16h desta sexta-feira (22) a rebelião que envolveu 90 presos na Penitenciária Nelson Hungria, em
Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. As duas pessoas que eram mantidas reféns desde as 9h desta quinta-feira (21) deixaram o presídio poucos minutos depois das 16h. A professora e o agente penitenciário passam por atendimento médico. Os presos aceitaram o acordo proposto por um gabinete de crise, com autoridades policiais e do governo, em uma reunião que foi realizada na tarde desta sexta.
Detentos passam por revista após fim da rebelião na Penitenciária Nelson Hungria em Contagem (Foto: Reprodução/TV Globo)
De acordo com a Secretaria de Defesa Social, um dos itens do acordo foi a garantia da integridade física dos rebelados. A secretaria ainda informou que o diretor da penitenciária não será afastado. Esta era uma das exigências da rebelião. Apesar de não ter sido atendida, a Corregedoria garantiu que vai apurar as denúncias de espancamento feita pelos detentos que participaram do motim.
O comitê ainda acordou que nenhum dos rebelados será transferido da unidade. Outro pronto de reivindicação dos detentos, que era sobre a visita de mulheres grávidas foi atendido. Agora, elas voltam a fazer a visita convencional, sem a presença de um agente penitenciário. Antes da rebelião, como as grávidas não podem ser submetidas ao raio-x na revista, elas eram direcionadas a uma sala reservada, e a visita acontecia na presença de um agente.
Segundo a secretaria, os 103 presos do pavilhão 1 estão sendo levados para outros pavilhões para que os danos causados ao prédio 1 sejam reparados. A visita para os presos está mantida normalmente para este fim de semana.
Os 103 presos que estão no pavilhão 1, onde aconteceu a rebelião, ficaram sem luz e sem o fornecimento de alimentos desde esta quinta-feira (21), quando começou o motim, inclusive os dois reféns. O Complexo Penitenciário Nelson Hungira tem capacidade para 1.664 presos, e abriga, atualmente, 1.970, segundo a Suapi. A rebelião foi liderada por Daniel Cipriano, de 29 anos. Ele tem seis condenações, sendo cinco por roubo e uma por homicídio, e cumpre pena na unidade desde agosto de 2011.
Rebelião na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, acabou por volta das 16h (Foto: Reprodução/TV Globo)
Integrigade física
As negociações foram retomadas por volta das 10h desta sexta-feira (22). Na chegada, o coronel Antônio Carvalho, do comando do policiamento especializado da Polícia Militar, disse que a integridade dos reféns está preservada. Ele afirmou que nenhuma medida precipitada pode ser tomada se isso colocar em risco a segurança das pessoas mantidas em cárcere pelos detentos. "Estamos focados na integridade física das pessoas que estão lá dentro", disse.
Neste segundo dia de rebelião, houve sinal de fumaça dentro do pavilhão 1 durante a manhã. Na porta do presídio, um advogado informou que cinco detentos que são a favor da direção atual do presídio também teriam sido tomados como reféns, mas a informação não foi confirmada pela polícia.
No fim da manhã desta sexta-feira (22), integrantes de um gabinete de crise criado para negociar o fim da rebelião informaram que os presos rebelados descumpriram um primeiro acordo de libertação dos dois reféns.
De acordo com as autoridades policiais e do governo, uma ata atesta a negociação, que foi feita nesta quinta-feira (21). O gabinete concordou em atender quatro reivindicações do presos, segundo o subsecretário de Administração Prisional, Murilo Andrade de Oliveira: visita convencional para grávidas, sem presença de agente penitenciário; tratamento aos detentos pelos nomes; revisão de penas e garantia de que os rebelados não serão transferidos. Posteriormente os detentos pediram a troca da direção do presídio, o que não foi atendido pelo comitê. "Não deram justificativa para isso", disse Oliveira.
A rebelião alterou a rotina dos presos nos demais pavilhões, onde o banho de sol foi cortado. O comitê de crise informou também que avalia se haverá visitas neste fim de semana.
De acordo com a Seds, 210 policiais militares, 30 agentes penitenciários do Comando de Operações Especiais (Cope), além de autoridades da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi) e da Polícia Civil estão envolvidos na ação.
Reivindicações
O subsecretário de Administração Prisional, Murilo Andrade de Oliveira, disse que os presos reclamam da demora na autorização de visitas e na proibição da entrada de mulheres grávidas nos pavilhões. Atualmente, as visitas por grávidas são feitas em uma sala especial, com a presença de um agente penitenciário. Os detentos ainda se queixam da direção do presídio, de espancamento e pedem revisão de pena.
Sobre a denúncia dos presos de que eles estariam sofrendo espancamento, Oliveira disse que nunca ouviu nenhuma denúncia deste tipo na unidade, mas que vai apurar. O subsecretário ainda falou que a revista geral em cada cela é feita rotineiramente no presídio. E que está previsto para o fim do ano a instalação de equipamentos de bloqueio de sinal de telefones celulares na unidade.
Goleiro Bruno
No pavilhão 1 estão presos condenados por por crimes como tráfico de drogas, furto e roubo. Este fica ao lado de onde está detido o goleiro Bruno Fernandes, pavilhão 4. Bruno é réu no processo de desaparecimento e morte de Eliza Samudio, ex-amante do atleta. Além de Bruno, está detido pavilhão 7 o amigo dele Luiz Henrique Romão, o Macarrão.
Na noite desta quinta-feira, o promotor do caso Eliza Samudio, Henry Wagner, chegou à penitenciária. Indagado sobre o que iria fazer no local, ele disse: ”vou me interar”.
Começo da rebelião
Durante a manhã, os presos saíram das celas e ocuparam o pátio. Eles queimaram colchões e usaram pedaços de tecidos para tentar escapar do pavilhão pelo telhado. Bombas de efeito moral foram usadas para evitar uma possível fuga, segundo major Sérgio Dourado, da Polícia Militar. Os detentos também usaram o que parece ser roupa de cama para escrever as palavras "opressão" e "sistema" no chão do pátio do pavilhão.
O motim começou quando a professora, que é uma das reféns, dava aula para alguns dos detentos, pelo ensino fundamental, e era escoltada pelo agente, que também está em poder dos rebelados. Ele chegou a ser ameaçado por presos com uma barra de ferro. Segundo o coronel, este foi o momento de maior tensão da rebelião.
A auxiliar de enfermagem Júlia Delfim, que é amiga da professora feita refém, disse que a professora gostava de dar aulas para os presidiários. A professora teria lhe dito que. em 12 anos de profissão dentro da Nelson Hungria, não houve nenhum registro de confusão entre ela e os detentos.
No início da rebelião na Penitenciária Nelson Hungria, presos escreveram "opressão" e "sistema" com o que parecia roupa de cama no pátio do pavilhão 1 (Foto: Reprodução/Globocop/TV Globo Minas)