Tentativas de fuga viram rotina
Em Lafaiete, três homens armados tentam resgatar presos em presídio
JOANA SUAREZ
Luciene Câmara
A má distribuição dos recursos da segurança pública pode estar afetando também a gestão das penitenciárias e cadeias. Apenas nos últimos dez dias, foram registradas seis ocorrências de fugas e tentativas de fuga, além de motins. A superlotação dos presídios, resultado da estagnação na criação de novas vagas, é apontada por especialistas como o estopim para a revolta no sistema carcerário. O Estado tem, atualmente, 15 mil presos além da capacidade - são 43 mil detentos para 28 mil vagas.
Ontem, uma tentativa de resgate de presidiários em Conselheiro Lafaiete, na região Central, mostrou mais uma vez a fragilidade do sistema. Três homens armados conseguiram burlar a segurança e invadir a portaria atirando contra os agentes penitenciários, por volta das 2h. Os funcionários revidaram e acionaram a Polícia Militar.
Antes da chegada dos militares, o grupo fugiu, sem conseguir resgatar nenhum preso. Ninguém ficou ferido. Até as 20h de ontem, os envolvidos no crime ainda não haviam sido localizados. A tentativa frustrada de resgate só fez evidenciar as deficiências do Presídio de Conselheiro Lafaiete, que está, atualmente, com 378 detentos - quase quatro vezes mais que a capacidade, de cem presos. Há dois anos, um presidiário da unidade teria rendido agentes antes de conseguir fugir.
A ocorrência confirma o medo da população de Conselheiro Lafaiete, que reclama dos muros baixos do presídio e da falta de segurança no bairro Angélica, onde fica a unidade. Em março, a reportagem de
O TEMPO esteve na cidade e constatou a sensação de insegurança. Em janeiro, três pessoas foram assassinadas.
A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) afirma que, em 2009, fez uma reforma no presídio no valor de R$ 800 mil. Foram construídas guaritas e muralhas e as celas foram reforçadas.
Rebeliões. O conselheiro de Assuntos Penitenciários da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Adilson Rocha, alerta que as últimas ocorrências em presídios podem ser o prenúncio de rebeliões. "O Estado precisa ficar atento a essas movimentações, que são indicativos de que os detentos estão insatisfeitos com a superlotação", explicou.
O cientista político Guaracy Mingardi, ex-sub-secretário nacional de Segurança Pública, destaca a falta de controle por parte do Estado, que abandona os bandidos na cadeia. "É preciso haver um acompanhamento, saber quem são os líderes dos presídios e perceber possíveis tentativas de fuga e rebelião", afirmou.
As últimas construções significativas de presídios em Minas Gerais aconteceram em 2009. No ano passado, o governo mineiro investiu R$ 625,8 milhões no sistema prisional, ou 8% do total gasto com segurança pública. De acordo com o Estado, serão investidos R$ 800 milhões no sistema neste ano.
Abuso
Bairro Esplanada. Um policial civil de BH acusa PMs de abuso de poder. O agente teria sofrido retaliação após apreender um jovem em uma festa. O jovem seria parente dos PMs, que teriam aplicado multas no carro do policial.
Dez dias se passaram e a polícia não tem pistas dos dez detentos que fugiram do presídio Antônio Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana. Dois presos haviam sido recapturados no dia seguinte à fuga. Os 12 internos fugiram por um túnel de 80 cm de diâmetro por 15 m de comprimento, cavado por eles durante 45 dias.
A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) informou que a Polícia Militar está à frente das buscas. De acordo com o chefe da assessoria de imprensa da PM, major Gilmar Luciano, as fotos e a ficha completa dos foragidos foram divulgadas para todas as unidades operacionais da corporação. "Não temos pistas, mas estamos monitorando as saídas do Estado", disse o major.
Também continua foragido o preso que conseguiu driblar dois policiais civis quando voltava para a Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem. A Polícia Civil abriu inquérito para apurar se houve falha na escolta. A Seds também está apurando a participação de agentes penitenciários na fuga do presídio em Ribeirão das Neves. (JS/LC)