quinta-feira, 12 de março de 2015

Polícia Civil testa modelo de investigação inspirado nos EUA 

Projeto piloto está em andamento na região Noroeste da capital desde setembro

Delegacia modelo da Policia Civil
Mudanças. Entre as novidades está a gravação de depoimentos; medida evita acusações de coerção
PUBLICADO EM 12/03/15 - 03h00
A chegada de uma equipe da Polícia Civil antes mesmo da Polícia Militar, menos de dez minutos após um assassinato, mexeu com o imaginário de moradores do bairro Urca, na região Noroeste de Belo Horizonte, na semana passada. A presença numerosa de policiais no local dava a impressão, a quem passava por perto, de que algum crime de grande repercussão poderia estar por trás daquele homicídio. Mas era só impressão. O que acontecia ali era a experimentação de uma nova técnica de investigação da Polícia Civil, baseada no modelo dos Estados Unidos, com o intuito de agilizar e aprimorar a qualidade das investigações.

Desde de setembro do ano passado, a Delegacia Modelo foi montada para tomar frente de inquéritos de homicídios tentados e consumados na região Noroeste da capital, que até então ficavam sob responsabilidade do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa. A ideia é fazer apurações mais rápidas e evitar que o inquérito seja reenviado à polícia após sua conclusão ou mesmo o arquivamento de processos por falta de provas ou erros na investigação.
Uma das diferenças está no número de policiais presentes na cena da ocorrência. No novo método, assim que há o comunicado do crime, uma equipe com oito policiais – formada por delegado, inspetor, investigadores, perito, legista e escrivão – vai ao local imediatamente e inicia a investigação, que permanece com o mesmo grupo. No modelo tradicional, a presença de policiais civis normalmente se limita a um perito e, às vezes, uma dupla de investigadores de plantão, para depois outra equipe assumir o caso.
“É um projeto piloto, inspirado no exterior. Já é possível perceber que esse trabalho em conjunto flui melhor. A investigação começa no ato, com depoimento de testemunhas e troca de informações imediatas entre os policiais. Cada um, com um diferente olhar, o que ajuda em uma interpretação melhor da ocorrência”, contou a delegada responsável pela Delegacia Modelo, Elenice Ferreira.
Desde que começou as atividades, a nova delegacia, que funciona entre 12h e 20h, de segunda-feira a sexta-feira, já trabalhou em 12 casos. Seis deles já foram resolvidos. As demais ocorrências seguem o prazo legal de 30 dias para conclusão das investigações. Não há informações sobre o desfecho dos inquéritos concluídos. O TEMPO mostrou, no ano passado, que entre maio e agosto de 2014 pelo menos 40% dos crimes violentos (homicídio, roubo, estupro e sequestro) ocorridos na capital não passam do registro do boletim de ocorrência e sequer foram investigados.
GravadosSediada no bairro Alípio de Melo, a Delegacia Modelo também apresenta diferenças físicas das demais unidades. Com exclusividade, a reportagem esteve no local e acompanhou a coleta do depoimento de uma testemunha de um dos casos investigados pela delegacia. Diferentemente do que é feito normalmente pela polícia, o procedimento foi todo gravado em vídeo e áudio.
“Isso traz maior legitimidade e transparência ao inquérito. E também evita, na fase de instrução de um processo judicial, por exemplo, que uma determinada pessoa que falou de forma espontânea para a Polícia Civil, negue tal informação ao Judiciário. Ou até mesmo fale que foi coagida ou agredida durante o depoimento”, acrescentou a delegada.
Prazo
ResultadoA expectativa da Polícia Civil é que os trabalhos da delegacia sejam realizados até dezembro deste ano. O aproveitamento será avaliado no fim do período.
Trabalho envolve diagnóstico da área onde crime é cometido

Outra proposta da Delegacia Modelo é o desenvolvimento de uma análise criminal da região. O objetivo é proporcionar aos policiais uma conjuntura histórica do espaço onde eles atuam.

“A ideia é fazer um estudo da área onde estamos trabalhando, com elaboração de um diagnóstico para a equipe antes de ela chegar ao local. Ela vai saber que lugar é aquele. Então, a nossa investigação começa antes mesmo de ir para a rua”, disse a delegada Elenice Ferreira.

Ainda de acordo com a policial civil, no modelo tradicional de investigação, normalmente, as informações da área são trocadas entre as delegacias regionais e as especializadas.

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