Criação de porcos e galinhas, dentro do Ceresp: agentes procuraram a reportagem para criticar situação da unidade prisional
IPATINGA – Mais uma vez o Centro de Remanejamento de Presos, o Ceresp de Ipatinga, é alvo de denúncias. Desta vez, as reclamações foram feitas por um grupo de agentes penitenciários que, insatisfeitos com a atual situação do presídio, procuraram o DIÁRIO POPULAR para relatar alguns episódios ocorridos no centro de detenção. Os agentes pediram para não terem os nomes divulgados, temendo represálias. Alguns deles são funcionários contratados e têm medo de perder o emprego.
Uma das reclamações feitas é a existência de um chiqueiro e um galinheiro nas dependências da unidade, em más condições de higiene. Porcos e galinhas são criados juntos, ao lado de uma horta e do galpão de artesanato usado pelas detentas. Segundo conta um dos agentes penitenciários, os porcos são abatidos a machadadas, pauladas e facadas dentro do próprio chiqueiro por um dos agentes. As partes do animal também são cortadas no mesmo local, que não possui estrutura física e higiene para a prática - e depois vendidas sem qualquer fiscalização. “O animal depois de morto é cortado ali mesmo. O local não é preparado para isso. As vísceras do porco são colocadas em um carrinho de mão e levadas para o lixo do presídio. As vendas dos cortes são feitas ao léu para quem sabe que essa prática é comum dentro do presídio. A Suapi (Subsecretaria de Administração Prisional) não entende, ou parece fazer vista grossa a esses acontecimentos”, opina outro agente, que ainda questiona para onde vai o dinheiro da venda da carne.
FUGA
Pouco mais de um metro separa o chiqueiro da altura do muro, facilitando a fuga de presos. Cobertores de uso dos detentos são utilizados como telhados no local. O risco era previsível.
Segundo contam os agentes, no dia 1º deste mês, um detento fugiu pelo telhado do chiqueiro e facilmente escalou o muro. Ele teria pedido atendimento médico a um dos agentes e, quando foi retirado da cela, os demais presos começaram a bater nas grades, distraindo os agentes penitenciários. “Já estava tudo combinado. Assim que o preso saiu da cela, começaram com a ‘bateção’, e o detento foi em direção à pocilga, porque ele sabia que por lá seria fácil fugir”, conta outro funcionário do Ceresp.
Ainda conforme os agentes, os cobertores usados para cobrir os chiqueiros foram encontrados no arame sobre o muro. O preso teria usado a manta para se proteger do dispositivo de segurança e não se cortar. Momentos depois, o detento foi achado na praça Caratinga, no Centro de Ipatinga, e levado novamente para o presídio. “Como podem construir uma pocilga que facilita a fuga do preso? Outra situação estranha é que antes de retornar com o preso para o Ceresp, teriam que ter passado com ele na delegacia para registrar o crime, e isso não ocorreu. Ele foi direto para o presídio”, acrescenta um dos agentes que estava de plantão dentro da unidade no dia da fuga. “E se um preso foge, todos os agentes que estavam no dia respondem administrativamente por isso”, diz.
Segundo contam, estranhamente, depois que o preso fugiu, todos os porcos foram abatidos de uma só vez. Eles relatam que eram mais de 10 leitões pesando aproximadamente 300 quilos cada um, além dos filhotes. Conforme retratam as fotos, os chiqueiros agora estão vazios.
DESLOCAMENTO
Os agentes penitenciários ainda denunciaram que a atual diretoria do presídio desvia a função de alguns agentes - de segurança da unidade para atividade administrativa. Com a medida, considerada ilegal pelos agentes, a guarita principal da cadeia fica desprotegida. “Com isso, outros agentes ficam sobrecarregados. Depois que a atual diretoria assumiu o Ceresp, a coisa lá dentro ficou muito pior. Já houve vários motins, fugas e tentativas de fuga. Não sei por que ninguém não faz nada. Tudo isso que a gente está relatando para a reportagem já foi denunciado na Corregedoria”, afirma um dos agentes.
Desfile de 7 de Setembro desfalca efetivo da unidade, acusam agentes
Ipatinga - Segundo denúncia dos agentes ouvidos pela reportagem, no dia 7 de setembro, a diretoria do Ceresp disponibilizou cerca de 70 dos 110 agentes penitenciários para participarem do desfile de 7 de Setembro na cidade de Açucena.
Como se já não bastasse o desfalque de funcionários na unidade, todo o armamento pesado foi levado do Ceresp, como carabina calibre 40, espingarda de balas de borracha, o único fuzil 556 e os seis cães. “Então quer dizer que se houvesse uma rebelião, ou algo pior, a gente não tinha como se proteger. Como os agentes que ficaram no Ceresp, desarmados, poderiam se defender caso houvesse algum movimento lá dentro, ou se uma quadrilha, sabendo da situação, resolvesse invadir o presídio?”, questiona um agente que permaneceu na unidade no dia do desfile.
“Todos os agentes, armas e ainda crianças foram colocados em um ônibus fretado pela diretoria do presídio”, diz outro funcionário. Uma das fotos mostra crianças dentro das viaturas, também levadas para o desfile em Açucena. “Todo mundo sabe que o cargo do diretor do Ceresp de Ipatinga é político e deve ser por isso que não tiram ele de lá. A situação do Ceresp nunca foi boa, agora está pior. O Ceresp é imundo, insalubre e inseguro”, resume um dos agentes.
PROCEDIMENTOS SÃO NORMAIS, DIZ ADMINISTRAÇÃO PRISIONAL
IPATINGA - Em nota encaminhada no início da noite de ontem (16), a assessoria de comunicação da Subsecretaria de Administração Prisional considerou todos os procedimentos que ocorrem no Ceresp dentro da normalidade. O comunicado explica que o desfile de 7 de setembro ocorre em todo Estado e é previamente autorizado pela Superintendência de Segurança Prisional (SSPI) da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi).
No caso do Ceresp de Ipatinga, a participação dos agentes não afetou a segurança na unidade, que seguiu sua rotina normal. Participaram do desfile de Açucena 44 agentes penitenciários, sendo 11 do Grupamento de Intervenção Rápida (GIR), que foram em duas viaturas do Sistema Prisional, e 33 agentes penitenciários que foram junto com os familiares num ônibus fretado pela Prefeitura. Todos os agentes que participaram do desfile estavam de folga no dia do evento cívico.
Em relação aos cães, quatro participaram do desfile e foram levados nas celas das viaturas. Já sobre o armamento, a utilização deles no desfile também foi autorizada pela SSPI e a unidade não ficou desguarnecida.
DESATIVADA
Sobre a criação de porcos, a unidade prisional desativou a pocilga no dia 8 de outubro. O que foi arrecadado pela unidade prisional foi depositado para o Estado por meio de um Documento de Arrecadação Estadual (DAE). O galpão, que funciona ao lado da pocilga desativada, é utilizado para reuniões e palestras dos funcionários do Ceresp e também como espaço para oficina de artesanato dos presos.
Quanto às viaturas, três estão em funcionamento e uma está em manutenção. A nota esclarece que a Corregedoria do Sistema de Defesa Social não recebeu nenhuma denúncia em relação aos fatos elencados. “É importante ressaltar que qualquer denúncia de desvio de conduta de servidores do sistema prisional deve ser feita à Ouvidoria pelo número 0800 283 9191. A apuração é feita pela Corregedoria da Secretaria de Estado de Defesa Social. Concluídos os procedimentos e comprovando-se a denúncia, os servidores recebem punições que vão de sanções administrativas e disciplinares a rescisões contratuais”, conclui a nota.
Depois da fuga de um preso, os porcos foram abatidos de uma só vez e chiqueiro está vazio