GAMELEIRA
Ceresp tem início de rebelião
Confusão durou quatro horas e tiros teriam sido disparados; superlotação é a principal reclamação
PUBLICADO EM 10/06/15 - 03h00
Um princípio de rebelião tumultuou a tarde desta terça no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) Gameleira, na região Oeste de Belo Horizonte. Familiares de presos e policiais contaram à reportagem que a confusão começou quando os presos exigiram a presença do diretor da unidade para discutir os problemas do presídio. A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), contudo, nega qualquer tumulto. Esse foi o segundo conflito em unidades prisionais no Estado desde o fim de semana. No caso de Governador Valares, no Rio Doce, dois presos morreram.
Familiares dos detentos relataram que por volta das 15h estavam entregando mantimentos em um dos pavilhões, quando três tiros foram disparados em outro galpão. Imediatamente, as cerca de 50 pessoas que ali estavam, dentre familiares e advogados, foram retiradas da unidade por agentes penitenciários. A confusão só teria terminado de vez às 18h, com a chegada de equipes do Comando de Operações Especiais (Cope).
“Foi tudo muito rápido. O pessoal começou a mandar a gente descer e todo mundo saiu correndo, desesperado. A situação aqui está muito problemática”, disse a familiar de um preso. “Nós e eles (detentos) somos tratados como lixo. Se eu reclamar, meu filho, que está preso por furto, sofre retaliações. O presídio está abarrotado e há pessoas de alta periculosidade ao lado de outras que cometeram crimes menores, até que roubaram um iogurte”, contou um outro parente.
Um agente penitenciário confirmou o embate. “Teve mesmo, mas foi tudo contornado”, disse. Além da superlotação, os presos reclamam da demora na entrega de mantimentos e correspondências. Por meio de nota, a Seds garantiu que “não houve nenhuma situação de anormalidade no Ceresp Gameleira”. Sobre as reclamações dos detentos, a pasta não se posicionou.
Situação. Como O TEMPO vem mostrando desde o início do ano, a situação caótica vivida pelo sistema penitenciário – com déficit de 26 mil vagas – traz riscos de rebeliões em série, comuns no Estado entre os anos 90 e início dos anos 2000.
“Essa rebelião já era esperada. Se não resolverem (a superlotação), vai começar a pipocar por todo lado”, alerta a presidente da Associação de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade, Maria Tereza Santos. “Os presos não têm espaço para dormir, por causa do número de pessoas, e as visitas estão sendo dificultadas. Gera revolta”, completou.
De tão cheio, o Ceresp Gameleira está proibido pela Justiça de receber novos presos desde abril. Hoje, há 1.236 detentos – a capacidade é para 400.
Crise no sistema penitenciário
2015. Desde o início do ano, O TEMPOtem mostrado uma série de confrontos em unidades prisionais de Minas Gerais. Em todos os casos, a superlotação é pano de fundo para a insatisfação dos presos. Março havia sido, até então, o mês de maior tensão. Em apenas uma semana, foram registrados ao menos seis conflitos.
Gameleira. Um deles foi no próprio Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) Gameleira, no dia 16, quando presos deram início a um motim. Eles atearam fogo em colchões e atiraram pedaços inflamados no corredor de um dos pavilhões da unidade. O Estado informou que o movimento durou cerca de 30 minutos e foi controlado por agentes da unidade. Em outro caso, na cadeia de Vazante, no Noroeste do Estado, um agente penitenciário ficou ferido, e 11 presos fugiram durante rebelião, em 15 de março.
Governador Valadares. No último sábado, detentos do presídio de Governador Valadares, na região do Rio Doce, protagonizaram rebelião que durou quase 24 horas e terminou com dois presos mortos e dez feridos – dois deles com gravidade. O Estado informou nesta segunda que todos os mais de 800 presos foram transferidos para unidades da região, também já superlotadas.
Viaturas
Presença. Apesar de o Estado negar o conflito, a reportagem flagrou pelo menos três viaturas do Comando de Operações Especiais (Cope) no local.
Local passa por mutirão carcerário
Na próxima sexta-feira, acontecerá a última etapa do mutirão carcerário realizado por alunos e professores da UFMG no Ceresp Gameleira. O objetivo é liberar presos que não teriam necessidade de estar encarcerados e assim reduzir a superlotação da unidade. Apesar da expectativa de melhora, os organizadores não esperam que o local seja desinterditado após o mutirão – ele está fechado para novos presos desde abril.
“Vamos ouvir todos os detentos que estão lá e analisar a situação de cada um deles. Nos casos em que couber o pedido de liberdade provisória, vamos entrar com a ação”, explicou o coordenador do mutirão e professor da UFMG, Felipe Martins.
Na próxima sexta-feira, acontecerá a última etapa do mutirão carcerário realizado por alunos e professores da UFMG no Ceresp Gameleira. O objetivo é liberar presos que não teriam necessidade de estar encarcerados e assim reduzir a superlotação da unidade. Apesar da expectativa de melhora, os organizadores não esperam que o local seja desinterditado após o mutirão – ele está fechado para novos presos desde abril.
“Vamos ouvir todos os detentos que estão lá e analisar a situação de cada um deles. Nos casos em que couber o pedido de liberdade provisória, vamos entrar com a ação”, explicou o coordenador do mutirão e professor da UFMG, Felipe Martins.