sábado, 26 de fevereiro de 2011

MORTES NO AGLOMERADO - Cabo enforcado na cela é novo mistério

Glória Tupinambás e Pedro Ferreira - Jornal Estado de Minas Novo e violento episódio acrescenta mais mistério ao assassinato de duas pessoas por policiais militares, na madrugada de sábado, no Aglomerado da Serra, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Ontem, o cabo Fábio de Oliveira, de 45 anos, foi encontrado morto dentro de uma cela do 1º Batalhão da PM, no Bairro Santa Efigênia, onde estava detido desde quarta-feira. Ele comandava a guarnição, que tinha outros três PMs, acusada da execução do adolescente e auxiliar de padeiro Jeferson Coelho da Silva, de 17 anos, e do seu tio e enfermeiro Renilson Veriano da Silva, de 39, depois de uma suposta e fracassada tentativa de cobrança de propina de traficantes de drogas. A Polícia Militar sustenta, com veemência, a hipótese de suicídio, mas não descarta a possibilidade de homicídio, o que transformaria o fato em queima de arquivo. Autoridades policiais que acompanham o caso levantam outra versão: o cabo morto pode se tornar um bode expiatório, levando assim a culpa de todos os crimes. Em circunstâncias ainda não esclarecidas, o cabo Fábio, militar com a mais alta patente entre os quatro policiais do Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam) presos pela morte dos dois moradores do Aglomerado da Serra e responsável por assinar o boletim de ocorrência do episódio, foi encontrado morto às 7h30 de ontem. Segundo a versão da PM, ele ocupava sozinho uma cela de 12 metros quadrados do 1º Batalhão e teria se enforcado com o cadarço do short que usava, amarrado ao registro de água do chuveiro. O militar estava sentado no chão, sobre um travesseiro, e foi descoberto quando o pessoal da guarda levava o café da manhã. No dia anterior, Fábio teria tomado banho de sol no pátio do batalhão e recebido a visita da mulher, de quem ele estava se separando, depois de 17 anos de relacionamento. À noite, o advogado Ricardo Gil de Oliveira Gumarães esteve com ele e afirmou que o militar demonstrava calma. “Fiquei surpreso com o que ocorreu. O cabo estava muito tranquilo, não comentou nada que deixasse qualquer suspeita de que pudesse cometer suicídio”, disse o defensor. A PM também afirma que o cabo não apresentava qualquer sinal de depressão ou transtorno psicológico e define o caso como uma “fatalidade”. A corporação ainda se defende de questionamentos sobre a possibilidade de omissão ou negligência por parte da guarda da prisão, uma vez que objeto (o cadarço) possivelmente usado para tirar a vida do militar estava dentro da cela e o caso só foi descoberto na hora do café da manhã. “A polícia não dispõe de um presídio militar e, por prerrogativa de função, quando há o decreto de uma prisão preventiva, enviamos para uma instalação que disponha de cela. No caso, foi o 1º Batalhão. Lá são tomados todos os cuidados para evitar casos como esse, mas, infelizmente, não poderíamos deixá-lo numa cama de alvenaria sem colchão, travesseiro, lençol, cobertor, camiseta e um calção. Ele só seria privado disso se houvesse indícios de que atentaria contra a própria vida, mas nada demonstrava que ele pudesse cometer ato tão violento contra si”, afirmou o chefe da comunicação social da PM, tenente-coronel Alberto Luiz Alves. Questionado sobre a possibilidade de homicídio, numa eventual queima de arquivo, o tenente-coronel afirmou: “Nada está descartado, porque tudo que dissermos nesse momento será precipitado. Por isso, o Inquérito Policial Militar vai fazer todas as apurações, ouvir os policiais da guarda de plantão no batalhão e avaliar as providências adotadas”, garantiu Alberto Luiz. CARREIRA Casado e pai de dois filhos, uma adolescente de 14 anos e um jovem de 21 – fruto de um relacionamento anterior –, o cabo, natural de Aimorés, no Leste de Minas, estava na PM havia 23 anos, 21 dos quais dedicados ao Rotam. Ele nunca havia respondido a inquéritos e acumulava 22 menções oficiais de elogios por bom desempenho. “Temos o dever legal e constitucional de dizer que, pela ficha e pelos trabalhos desempenhados pelo cabo, nada desabonava a sua conduta. Quero deixar claro que, até que se prove o contrário, todas as pessoas são inocentes”, acrescentou o tenente-coronel Alberto Luiz. Entidades de classe, como a Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais (Aspra) e o Centro Social de Cabos e Soldados, lamentaram a morte e as acusações contra o cabo Fábio e fizeram um protesto na manhã de ontem. O cunhado do militar, Rogério Magno de Oliveira, de 53, também criticou o tratamento dado ao caso pelas autoridades. Para ele, houve um préjulgamento e o militar se sentiu pressionado. "Fábio foi chamado de bandido. Inocente ou culpado, ele estava no morro fazendo o trabalho dele", afirmou. Rogério ainda disse que tentou falar com o cunhado na prisão, mas foi impedido. “Ele foi mantido incomunicável.” O advogado Ricardo Guimarães disse que não teve acesso ao laudo pericial feito na cela onde o cabo foi encontrado morto. Ele conta que, depois da visita ao batalhão na noite de quinta-feira, o comandante do Rotam teria conversado com o preso. “Quando nos falamos, ele estava tranquilo. Relatamos quais seriam os procedimentos a serem adotados para tentar revogar a prisão preventiva. Ele pode ter se sentido pressionado com as declarações dadas pelas autoridades de segurança a seu respeito”, disse o defensor. As circunstâncias da morte do cabo estão sendo investigadas pela Polícia Civil e pelo Ministério Público Estadual e peritos do Instituto de Criminalística, que vistoriaram a cela. O corpo foi levado para o Instituto Médico Legal (IML) e o enterro está previsto para hoje à tarde. O enterro é hoje às 15h, no Cemitério Belo Vale, em Santa Luzia, Região Metropolitana de BH.

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